07 novembro 2010

O OURO DE MURIBECA-5

A toca estava muito escura. Colheu uns galhos secos na moita de murici e preparou uma fogueira na entrada. Dali a pouco apanhou um tição em chamas e mergulhou na fenda do paredão. Não sem surpresa se deparou com o chão repleto do que pareciam moedas douradas, espalhadas por toda parte.
Arrastou madeira seca para dentro da toca e clareou o ambiente com uma vigorosa fogueira. O cachorro magro encolheu-se em um canto enquanto o homem juntava com avidez e sem conter as lágrimas um monte daquelas coisas que ele jamais duvidaria que fossem moedas de ouro. Fez uma pilha e sentou-se sobre ela como um soberano sobre os espólios de uma conquista. E sorriu... E gargalhou... E chorou expelindo frustrações antigas e anunciando uma intensa felicidade. E foi por um momento aquele atleta quase derrotado na vida que se viu no topo do pódio, envergando um primeiro lugar.
Mergulhado no turbilhão de sensações, sentiu o estômago reclamar... Foi quando tirou da capanga o couro da onça, o couro de bode desgastado, a faca e afundou a mão em busca de um naco de carne seca e de um resto de rapadura.
Ficou sentado naquela pilha de coisas roendo a carne, beliscando a rapadura e rindo à toa aqui e acolá. Atirou um trecho de carne ao cachorro magro enfunado num canto. Então estranhou que o bicho apenas cheirasse a carne deixando-a de lado. Olhou para o cão, esfregou os olhos e fixou o olhar mais detidamente na criatura. O cachorro que tinha pelo cinza estava amarelado. Não! Fechou e abriu novamente os olhos. Lá estava o bicho amarelinho. Coçou a cabeça, olhou para o pedaço de rapadura na mão. Ficou em silêncio e  sem qualquer vibração de voz foi transfigurando o semblante. Olhou duro para o pobre animal acoitado em um canto da toca. Foi quando expulsou um grito: cachorro, satanás, tu tá comendo meu ouro? Tá amarelo por que, peste ruim? O cão assustado abanava a cauda fiel e quedava o queixo resignado sobre as patas dianteiras, sem entender nada. O homem já com aspecto sombrio gesticulava e excomungava o amigo fiel. Então, num impulso violento, pegou da faca e saltou no bicho indefeso: se tu comeu o meu ouro, mundiça medrosa, tu vai devolver agorinha mesmo! E fez no infeliz canino o que havia feito na onça, na noite anterior.

2 comentários:

gustavo disse...

me tire uma duvida ai amigo,essa foto seria em boca d'água?

GTV BOCA DO INFERNO disse...

Não, infelizmente não consegui identificar a origem geográfica da foto.