11 novembro 2010

MONTEIRO LOBATO E A PATRULHA BOCÓ

Recentemente houve uma polêmica envolvendo o MEC e o Conselho Nacional de Educação com respeito ao conteúdo racista de algumas passagens do livro Caçadas de Pedrinho, de Monteiro Lobato. Um ativista do movimento negro encaminhou denúncia a instâncias do governo pedindo a retirada do livro da lista de obras do MEC e cobrando seu banimento das salas de aula. Imediatamente, comandos ideológicos do movimento negro iniciaram uma patrulha para excomungar a obra de Monteiro Lobato. E o que se viu foi gente que nunca leu uma página da literatura lobatiana alimentando certo apedrejamento simbólico insano do escritor.

Monteiro Lobato é, sem dúvidas, o maior escritor de literatura infantil das américas. Talvez o único que desde os anos 20 do século XX se comprometeu em produzir uma obra exclusivamente para as crianças, mas sem os vícios imbecis da literatura voltada ao universo infantil daquela época. A obra de Lobato, nesse quesito, é plural, criativa e educativa. Tanto é que faz sucesso em muitos países, em alguns, como a Argentina, é mais lida e referenciada do que no Brasil. Mas inevitavelmente, em certos aspectos, a criação infantil desse escritor é produto de uma época. Isso não diminui sua inventividade e nem o seu valor, porém nos força a ser criticamente  mais cuidadosos com certos aspectos ao empreender sua leitura. E não é assim mesmo que se deve proceder com qualquer leitura?

 No livro Caçadas de Pedrinho, algumas expressões com negativa tintura racial utilizadas por Lobato, ao se referir à personagem Tia Nastácia, soariam com naturalidade nos anos de 1930, quando o livro em questão foi escrito. Entretanto, para os padrões culturais contemporâneos tais expressões são grosseiras e visivelmente desrespeitosas com o negro.  Mas isso não justifica o banimento do livro. Não se pode ignorar as muitas virtudes da obra infantil desse escritor paulista em função de um aspecto negativo. A educação que prepara o ser humano crítico não exclui as falhas humanas do espaço de formação da criança, pelo contrário, as traz para a arena da sala de aula e as transforma em conteúdo educativo. Se não fosse assim, a obra do filósofo grego Aristóteles que reproduz uma visão terrível da mulher para os padrões de hoje, aspecto do seu pensamento perfeitamente comum no contexto grego de sua época,  lhe tiraria a posição de maior pensador do mundo ocidental de todos os tempos e isso ninguém com neurônios funcionando cogitaria imaginar. 

As patrulhas ideológicas são vozes críticas e contrárias em plena ação. Se fosse só essa sua natureza seria uma maravilha, contudo patrulhas não raro boiam na superficialidade, são indissociáveis de comportamentos autoritários e invariavelmente adeptas da monocultura do saber, no caso o seu. Assim, tendem a querer eliminar o conteúdo que contraria o seu posicionamento em vez de transformá-lo em objeto de formação crítica. O MEC e o CNE não cederam a esse lado bocó das patrulhas. Optaram acertadamente por manter o livro Caçadas de Pedrinho na lista das escolas orientando os professores a debaterem seu ponto negativo e assegurando aos alunos o convívio com suas muitas virtudes. O que você pensa sobre isso, leitor? Há braços!

2 comentários:

gustavo disse...

acredito que dos anos 1930 pra cá muitos conceitos mudaram.notar erros,corrigir,discutir os mesmos seria uma prova da nossa evolução.porém,notarmos um pequeno erro num trabalho tão extenso e valioso como a litératura de monteiro lobato,e darmos enfase ao ponto de esquecermos seu verdadeiro valor,não seria inteligente.

Unknown disse...

À fogueira! Queimem todos os livros. Dalê! Igreja Católica, via a Idade média! Vamos criar a perfeição. Afinal para quer ler uns livros tão chatos, ora pois! Eu acredito que este povo não tem o que fazer e fica indo em busca do ouro de tolo, talvez estes movimentos querem apenas aparecer na mídia. Qual é um sentido de uma atitudes como estas? Proibir para quê? Será que com a proibição da leitura de Lobato acabaria com atitudes racistas das pessoas na fase adulta? Onde está a capacidade do Educador de debater temas ligado ao racismo? Odeio o "politicamente correto"! E o completamente "burro", também!