26 março 2009

ACAMPAR SEM DESTRUIR A SERRA

Acampamento na serra de Uibaí, foto de Kalil
Cada vez mais o pessoal de Uibaí tem desenvolvido o gosto pela prática de acampamentos na serra. Isso era a coisa comum na semana santa, quando muita gente da Canabrava subia o Morro Branco levando provisões para passar o dia inteiro por lá. Ocorre que ao longo dos anos não se viu o aprimoramento ecológico das subidas ao morro. O resultado, no fim do dia, era sempre que o morro ficava detonado. A vegetação rasteira esmagada, arbustos mutilados e muita sujeira de plásticos, vidros, latas de doces, sardinha etc. O mesmo acontecia nas fontes e no Banheirão. Ainda bem que no morro a invasão nefasta só acontece uma vez por ano.

O que parece é que há uma nova geração mais consciente praticando o acampamento. Eles levam barracas, procuram não fazer fogo de modo impróprio e em lugares inadequados; levam sacos para recolherem os resíduos não orgânicos ou poluentes que produzem durante a estada na serra e sempre trazem o lixo produzido de volta para a casa.

Parece que a atitude desses ecocampistas é apenas de contemplação e interação pacífica com a natureza. Ninguém vai acampar com armas ou com o intuito de cortar árvores ou capturar animais. Que bom que seja assim! HÁ BRAÇOS!



SEGUEM ALGUMAS DICAS DOS ESCOTEIROS:



"Ao chegar ao local de acampamento...
... não arranques a vegetação existente no teu campo. Se arrancares a vegetação, com uma contínua utilização, depressa a erosão tornará o campo impossível de acampar.
O que fazer então?Para limpar o teu local de acampamento, basta retirar os paus e as pedras que nele encontrares.
Na montagem de campo...
... não pregues nem espetes nada nas árvores. Ao fazê-lo estarás a danificar os canais condutores de seiva da árvore o que, a curto prazo, acabará por matar a árvore.
O que fazer então?Bastará para o efeito, usares uma espia para segurares o que quiseres.
... não faças regos à volta da tenda. Ao abrires regos, estarás a destruir a camada de manta morta (humus), assim como a causar graves danos no sistema radicular da vegetação existente.
O que fazer então? Se for mesmo necessário fazer regos, para escoamento das águas das chuvas (pois a tua tenda não impermeável) fá-los de tamanho reduzido e de pouca profundidade.
Nas construções...
... não cortes nenhuma árvore para fazer as tuas construções em campo. Ao cortares árvores para usares nas tuas construções, estás a desperdiçar e a danificar os recursos florestais. Lembra-te "uma árvore é uma vida".
O que fazer então? Reduz as construções ao mínimo possível, usa desperdícios (madeira caída) e procura apoiar as construções nas árvores, reduzindo assim a quantidade de madeira a utilizar.
No consumo de água...
... não desperdices água. Como sabes, a água é um recurso natural de elevada importância e bastante limitado.
O que fazer então? Utilizar a água com cabeça, evitando assim um elevado consumo desta.
... não utilizes detergentes que não sejam biodegradáveis para lavar a loiça ou a roupa. Ao utilizares estes produtos, estás a contribuir para a contaminação dos lençóis subterrâneos de água.
O que fazer então? Para a lavagem da louça ou da roupa utiliza, na medida do possível, detergentes biodegradáveis, pois não são tão poluentes.
Na vida do acampamento...
... não deites nada para o chão. Assim estarás a destruir a floresta, poluindo-a.
O que fazer então? Utiliza um saco e leva o lixo para um local onde façam a sua recolha, no final do acampamento.
... não grites com os teus companheiros nem utilizes rádios. Se procederes de modo contrário, não poderás disfrutar do "silêncio" da vida em campo e estarás a perturbar o "habitat natural" onde te encontras.


"Procura deixar o mundo um pouco melhor do que o encontraste". Baden-Powell"

19 março 2009

A ARTE PRECISA DE FINANCIAMENTO

Uibaí vem passando por um momento muito interessante em termos de manifestações culturais. A Aupac, o grupo Seu e o Gpec têm protagonizado uma intensa movimentação regada a teatro, música e poesia. Tá faltando a valorização desses agitadores culturais. Tá faltando uma política cultural que propicie condições financeiras mínimas para esses profissionais continuarem o trabalho bonito que vêm desenvolvendo. Arte e cultura precisam de incentivos financeiros. Quem trabalha de graça é relógio... Aliás, o relógio cobra a pilha! Há braços!

13 março 2009

SERRA DEGRADADA NO POÇO

Na visita que fiz à fonte Gasta Sabão, no povoado do Poço de Uibaí, em janeiro/2009, tive uma visão desoladora. Apesar de ter chovido um pouco, encontrei mais cinzas do que verde. O último fogo que aconteceu naquela região, na serra entre o Poço e Olhos D'agua, segundo informações de moradores, durou aproximadamente 20 dias. Essa queimada provocou clareiras enormes, deixando a serra inóspita. Os riachos outrora existentes, agora não têm água nem pra passarinho. Frutas silvestres como murici, puçá, guabiraba, araçá, quipá etc., agora só existem no imaginário do povo, só na literatura. Fauna e flora estão praticamente dizimadas. Temos apenas resquícios de vida.

(Sêneca Fernandes, para o boca do inferno)

07 março 2009

BURRICE E DEGRADAÇÃO AMBIENTAL

Banheirão em 1989, depois de ser desentupido.
Durante muito tempo, Uibaí foi, para a região de Irecê, o oasis das águas frescas e saudáveis. O lugar aonde as pessoas vinham buscar água cristalina ou desfrutar do lazer que os riachos e nascentes da serra ofereciam durante o ano inteiro.
Até meados dos anos de 1980, o Banheirão, por exemplo, recebia um fluxo significativo de pessoas de muitos municípios da região. Ocorre que paralelo a esse desfrute turístico e utilitário dos recursos hídricos de nossa serra também prosperava (e ainda prospera) uma irracional prática predatória do meio ambiente.
Entendam como predação ambiental a implantação descontrolada de roças ao longo da serra bem como a proliferação criminosa de queimadas, do comércio de postes, pedras e da fauna silvestre. Tudo isso somado gerou uma violenta degradação ambiental que teve como resultado o definhamento das nascentes e a escassez do nosso mais apreciado recurso. Não dá para esquecer os entupimentos da barragem no final da década de 1980. A cada estação de chuva, a cavidade da barragem ficava completamente preenchida de areia, resultado do assoreamento gerado pelo desmatamento produzido serra acima.
A Canabrava entrou a década de noventa com uma crise profunda de abastecimento de água e com as nascentes e riachos quase extintos. Durante esse período, nada, praticamente nada foi feito para salvar a serra. Quanto à escassez de água, o município foi salvo pela chegada da água proveniente do açude de Mirorós. Uma água, embora potável, com uma qualidade muito inferior ao produto outrora abundante nas grotas da Serra Azul. O povo sofreu para se adaptar ao caldo grosso e meio salobro que passou a jorrar das torneiras vigiadas pelos registros da Embasa.
O período de otimismo que se instaurou com a chegada da água de Mirorós tem dois lados. Por um lado, deu descanso para as nascentes que deixaram de ser sugadas com o fim de alimentar as residências uibaienses e de demais municípios e também estimulou a expansão urbana, mas, por outro, deu a entender que não precisávamos mais dos recursos da serra, podendo-se, portanto, continuar a destruí-la à vontade e de forma voraz... Infelizmente foi o que aconteceu.
A falta de consciência e a desinteligência nossa, não nos permitiram perceber que aquela ocasião seria o momento exato para cuidar da serra, para proteger nossas águas e transformá-las em fonte turística de divisas e de qualidade de vida para Uibaí. Preferimos ignorar tudo isso e destruir cada vez mais nossos recursos naturais, já que o problema hídrico estava resolvido. Santa burrice!

Faltou-nos visão a médio e longo prazo. Infelizmente, não levamos em conta que a barragem de Mirorós também poderia entrar em colapso. E é exatamente isso que estamos presenciando agora. Novamente, o fantasma do desabastecimento ronda a região de Irecê. O baixo nível da água no açude de Mirorós, que abastece 486 mil pessoas em 14 municípios da nossa região, começa a preocupar as autoridades e a virar tema de discussão. O problema é este: as autoridades só se preocupam quando o estrago já está feito. Dados do Ibama e da Embasa apontam entre as causas da diminuição brusca do volume das águas, a degradação das nascentes e das matas ciliares dos rios que alimentam a barragem e o uso abusivo e descontrolado do referido produto.
Em Uibaí, a Codevasf, já ciente da crise de água por que a região começa a passar, resolveu investir na recuperação ambiental da serra, por saber do potencial hídrico que está sendo desprezado ali. E a prefeitura, e as entidades organizadas do município, como vão entrar nessa história? O que estão fazendo? Uibaí tem um produto precioso em seu território e ignora isso. Qual será o preço a pagar? HÁ BRAÇOS!

Alan Oliveira Machado