12 outubro 2007

BOCA DO INFERNO 37

BOCA DO INFERNO ESPECIAL, DEZ ANOS DE INQUIETAÇÃO


Este número que estamos construindo com colaboração de intelectuais acadêmicos e de populares, vem marcar os dez anos de atividade crítica do nosso caderno. Na verdade este número 37 ratifica a tendência do Boca do Inferno em ser aberto, desde a sua primeira publicação, para a opinião indiscriminada dos mais variados segmentos da sociedade. HÁ BRAÇOS!


LEITURA VIRTUAL: O QUE É ISSO?
Luciano Rodrigues Lima (Doutor em Literatura, Professor titular da UNEB, Professor adjunto da UFBa)
Chama-se leitura virtual a leitura do texto na tela do computador (PC, lap top ou palm top), ou do texto projetado por um data show, projetor de cinema, tela de televisão ou mesmo um simples retro-projetor. O significado da palavra virtual é controverso (Gilles Deleuze, um pensador francês, alerta que o virtual não é o irreal, mas algo como o devir do real, uma espécie de futuridade do real), mas podemos falar de algumas de suas características: é algo que se revela como uma imagem do real, mas não possui uma corporeidade permanente; projeta-se como imagem e som perceptíveis, mas é resultado de um processo de codificação eletrônica e não do movimento de corpos reais (a música gravada é virtual, a voz ao celular, também, assim como o próprio texto impresso possui algumas características virtuais, pois representa as palavras que não estão sendo pronunciadas por nenhum aparelho fonador de verdade).A imagem virtual necessita de um componente cultural para a sua percepção e compreensão. Muitos animais não reagem à comunicação virtual pois não são capazes de compreender a cultura e o significado das invenções humanas (embora possuam sua própria cultura), enquanto outros, como os macacos e, às vezes, gatos, percebem e reagem diante das imagens virtuais, numa surpreendente capacidade de adaptação cultural.Voltemos, contudo, ao texto verbal virtual. A internet, o texto online, é, sem dúvida, o maior acervo de textos verbais para leitura virtual, cabendo citar, também, as edições eletrônicas de obras e textos de qualquer natureza, em CD-ROM, pen-drive, MP3, MP4, etc. A leitura desses textos se dá sempre em tela, mas essa concepção de leitura é avançada e o texto verbal pode ser associado a outros recursos midiáticos, como som, imagem em movimento, efeitos especiais de diversos tipos.Se me perguntam se o texto virtual substituirá o livro, no futuro, respondo que não sei. O futuro da tecnologia virtual é imprevisível. Mas penso que o texto virtual possui vantagens em relação ao texto impresso. O texto virtual é mais ecológico pois não necessita de papel, material atualmente feito de celulose vegetal. Também não ocupa quase nenhum espaço, algo tão importante nas reduzidas moradias das cidades grandes. Mas a maior vantagem do texto virtual é a sua praticidade, explicada através de aspectos como a atualidade, a velocidade e a acessibilidade. O texto virtual é sempre atualizável, como os dicionários, glossários e edições de obras online. As edições eletrônicas de jornais e revistas são atualíssimas. Mesmo os textos pessoais são mais rápidos, bastando comparar a carta tradicional e o e-mail. O acesso ao conteúdo dos textos virtuais (corpora para pesquisas, edições eletrônicas de obras completas, referências bibliográficas e referências terminológicas) é sempre mais rápido. Se estou lendo, por exemplo, a obra completa de Freud em edição eletrônica e desejo pesquisar o tema “inconsciente”, a edição me dará a indicação de todas as páginas, livros e artigos em que o termo aparece. Além disso, o texto em tela é digitalizado e pode ser copiado, reformatado, enviado para qualquer outro computador em qualquer parte, transposto para outros meios eletrônicos e, caso o usuário ainda possua apego às coisas matérias em si, como aqueles leitores fetichistas que adoram cheirar os livros, o texto virtual pode ser impresso.Penso que o Brasil, principalmente o MEC, os órgãos que lidam com cultura e ciência, as universidades, as editoras e mesmo aqueles que comercializam qualquer tipo de texto escrito, ainda precisam discutir uma política para disseminação do texto virtual. Sabe-se que existe, atualmente, mais leitura virtual do que leitura de texto impresso e mais lan-houses do que bibliotecas, mais e-mails do que cartas. E penso, ainda que existe mais escrita virtual do que escrita em papel. A escrita virtual é atraente, pois é assistida por revisores ortográficos, não existe partição silábicas, alerta-se contra repetição de palavras, pode-se corrigir infinitamente e já existem revisores gramaticais que auxiliam e alertam quanto às concordâncias verbal e nominal. Sem contar que se pode pegar qualquer informação online sobre nomes próprios, fatos históricos, obras, etc, para se utilizar na própria escrita.De volta à questão das políticas públicas, parece existir, ainda, principalmente nas universidades, um forte preconceito contra o texto virtual, principalmente o texto através da internet. Para muitos países, como o Reino Unido, a Austrália, os Estados Unidos e o Canadá, a internet já é o espaço em que toda a cultura acumulada (todos os textos clássicos de todas as áreas do conhecimento) está disponível gratuitamente em língua inglesa. É como se fosse a grande biblioteca de Babel, como a concebeu o escritor argentino Jorge Luis Borges. Enquanto esses países disponibilizam seus textos em suas línguas, o que angaria prestígio para suas respectivas línguas e culturas, no Brasil ninguém disponibiliza nada. Faltam iniciativas e sobra desconfiança.Se se quiser cobrar pelos textos, existem mecanismos como as livrarias virtuais, a exemplo do Questia, um portal onde se paga via cartão de crédito e se tem acesso a milhares de livros novos. Ou, buscam-se patrocinadores para os sites de leitura virtual. A pirataria eletrônica pode quebrar essa resistência ao texto virtual e tornar digital e gratuito o texto daqueles autores mais resistentes ao meio virtual. Assim, não querendo perder um pouco eles acabarão perdendo tudo. O texto virtual, no meu entendimento, democratiza a leitura.Imprevisível, o futuro do texto virtual e do texto escrito (discussão já antecipada em Apocalípticos e integrados, de Umberto Eco, mas também preocupação de pensadores baianos como Antônio Risério, em Ensaio Sobre o Texto Poético em Contexto Digital) interessa a todos os leitores. Encerro este breve texto (virtual) com uma frase do pensador Jean-François Lyotard, para reflexão: “...no futuro, tudo que não couber em tela de computador será descartado”.


AGORA SE PAGA PARA LER E ESCREVER
Aproveito o gancho da discussão levantada pelo professor Luciano para refletir sobre esse fenômeno que vem ocorrendo país a fora. Paralela aos destroços da educação e aos níveis baixíssimos de leitura, tem-se visto, nos últimos anos, a proliferação de lan houses, ou melhor, casas de internete por todo o país, sobretudo nos interiores. Há casos de cidades que nunca tiveram sequer uma biblioteca e agora têm vinte ou trinta lan houses em pleno funcionamento. E a leitura e escrita, antes uma tortura imposta pela pedagogia equivocada dos meios escolares, passou a ser um exercício que os jovens praticam diariamente nessas lojas de internete, seja via emeios, nos orkuts, nos msn, blogs, flogs, listas de debates ou chats.O poeta e professor Robério Barreto, inquieto pesquisador de mídias, atualmente ministrando aulas na Uneb de Irecê, com o qual iniciei um fértil diálogo, disse outro dia que Irecê, por exemplo, conta com mais de 25 lan houses, um número considerável se se for apurar que há apenas uma biblioteca pública, precária, na cidade. Diante desse quadro, a gente tem que se perguntar qual seria o reflexo disso na aprendizagem dos freqüentadores desses novos espaços de produção de leitura e escrita, pois o jovem que antes fugia da leitura e da escrita, agora, por desejo próprio, busca esses exercícios e, por incrível que pareça, paga entre 1 e 2 reais para executá-los, a sua maneira, em uma loja de internete.Num rápido olhar, o que se percebe é que a orientação e o controle do processo de desenvolvimento de leitura e da escrita escaparam do espaço escolar possivelmente só restando uma saída para a escola: trazer a internete para dentro de seus muros e a pedagogia, o conteúdo e os mestres para a internete. Parece que estamos no limiar de uma mudança radical na práxis pedagógica.Assim, antes de qualquer julgamento negativo ou positivo, acredito que é preciso investigar quais os conteúdos, os modos de recepção, de leitura e de escrita que esses novos leitores e produtores de texto estão exercitando; é preciso saber qual será o papel da escola nessa nova relação de leitura e escrita. Aqui para nós, será que algum canabrabeiro engajado já se deu conta de que esse fenômeno está ocorrendo também em Uibaí?HÁ BRAÇOS! alan oliveira machado


IRECÊ: CIDADE CIBERNÉTICA
Robério Barreto ( Professor da Uneb em Irecê)
Em Irecê há uma predominância de oralidade acima dos índices nacionais o que o caracteriza com cidade de fala. Por outro lado, não se tem conhecimento amplo de políticas públicas que incentivem a produção escrita e a prática de leitura. Então, eis ai que surge o espaço para a mídia digital – internete – na qual crianças e adolescentes se fazem usuários efetivos dos ciberespaços e ciberdiscursos, chegando a ocupar, em média duas horas de seu dia com acessos a sítios eletrônicos e salas de bate-papo, que nem sempre levam à pesquisa e muito menos à construção do conhecimento sistemático, uma vez que esses cidadãos cibernéticos já não mais aceitam as mensagens estáticas e conservadoras das mídias televisivas e radiofônicas, comumente encontradas em casa. Isso, sem dúvida, tem possibilitado o comércio da informação digital, de maneira que, em pesquisa recente, verificamos que nessa cidade existem 25 casas de internete – Lan House –, oferecendo acessos digitais a quem quer que seja. Esses serviços não têm muito controle, isto é, poucas casas digitais realizam o protocolo legal, ou seja, fazem o registro do usuário de forma correta, conforme pede a legislação federal.Nesse universo digital tem algo muito particular e significativo: os usuários da web estão divididos em conformidade com horário em que se dispõem a usá-la. Conforme pesquisado, no período matutino as casas de internete passam a ter movimento a partir das nove horas da manhã, momento em que boa parte dos usuários, estudantes, deixa a escola para ir a tal local se conectar com seus amigos virtuais. No vespertino, a lógica se inverte: os usuários na maioria das vezes vêm direto à Lan house, permanecendo por lá até fim do horário escolar. O curioso nisso é que tais enunciadores e enunciatários digitais, ao serem inquiridos sobre os sítios eletrônicos e quais as finalidades com que os acessavam, são uníssonos ao afirmaram: acessamos sites de jogos, orkut e menssager para conversar com nossos amigos e jogar com eles. Então, por esse depoimento, pode-se perceber quão a mídia digital está promovendo uma espécie de interação à distância com pessoas que nem sempre terão condições de se encontrar pessoalmente.Diante disso, há ainda que se destacar a questão do acesso. O mercado da Internet segue o principio da livre concorrência, isto é, devido à demanda a rede foi-se expandindo. Hoje, Irecê – BA tem, conforme já mencionado, 25 estabelecimentos comerciais oferecendo esses serviços, bem como há alguns espaços públicos com internete pública, porém, estes não correspondem a 10% do mercado privado. Em tamanha vantagem, a iniciativa privada, tem promovido promoções interessantes: Há quatro meses a maioria das casas de internete está com uma promoção tentadora: “acesso por 0,99 a hora” . Com isso, aquelas crianças e adolescentes que comprariam lanche na escola por esse valor, passaram a gastá-lo com a compra de uma hora de acesso à web. Esse tempo lhes possibilita navegar por vários mundos, inclusive lendo informações que jamais a escola e os livros didáticos lhes possibilitariam, sobretudo numa rede ensino onde não há bibliotecas com acervos atrativos, além de conhecer pessoas de várias partes do mundo e, assim, trocar informações sobre suas culturas.(Veja o texto completo em: poetadasolidão.blogspot.com)


SEU GIRANDOLÊ NA VOZ DO POVO

O povo uibaiense é mesmo surpreendente. Quando se pensava que a preocupação com a arte e a cultura havia morrido, eis que surge o Praça Inquieta, reinventando tudo; eis que o Grêmio Cultural emerge das cinzas, a Seac levanta-se de uma longa dormência e Uibaí começa a vislumbrar uma renovação cultural. Agorinha, possivelmente como síntese dessa renovação, aparece no pé da serra o SEU, sigla que resume o nome do Grupo de Teatro Sociedade do Espetáculo Uibaiense, fundado nos últimos meses com a nobre tarefa de tocar projetos de arte e cultura em Uibaí e administrar a Associação Uibaiense de Promoção de Arte e Cultura (Aupac), que garantirá o funcionamento do Grêmio Voz do Povo.O grupo, até então composto por oito membros, vem apresentando o espetáculo teatral Ambulância. Além do propósito de divertir, o Ambulância prepara e divulga o projeto Girandolê que abrange arte e cultura num sentido mais amplo. Tomara que a turma entusiasmada do SEU consiga ensinar para Uibaí que arte e cultura é algo fundamental e que quem se dedica a essas atividades é um trabalhador que merece respeito e remuneração como qualquer outro profissional.

A TERCEIRA CEGUEIRA:
REFLEXÕES SOBRE A RELAÇÃO LETRAMENTO E CULTURA ORAL

Cosme Batista dos Santos[1]

Este texto que dou o titulo de a terceira cegueira[2] é parte de uma seqüência de textos curtos que venho produzindo sobre determinados conceitos e orientações teóricas de pesquisa sobre o letramento e que, por diversas influências, têm sido utilizados na construção da paisagem conceitual de trabalhos sobre o letramento ou de estudos das praticas sociais mediadas escrita. Como já foi dito, este texto, particularmente, discute uma primeira cegueira que caracteriza a cultua escrita na sua relação com as outras modalidades culturalmente situadas de significação. Acrescenta uma segunda cegueira que, historicamente e geograficamente, impede o trânsito entre a cultura oral e a cultura letrada, assim como entre os seus sujeitos e praticas. Trata ainda de uma terceira cegueira que, nos nossos dias, parece surgir como produto de certas leituras situadas na fronteira ou na interface entre tais culturas.

A primeira cegueira é atribuída, basicamente, à ciência moderna e à cultura escrita, essa última, por ser o canal por excelência dos bens culturais e científicos dos segmentos dominantes da sociedade. A cultura letrada não viu, nem produziu os instrumentos que permitissem o acesso ao conhecimento prático, à cultura oral, às maneiras de fazer e de dizer dos subalternos, dos camponeses e dos operários. Não há na cultura escrita dominante, o espelhamento das ações periféricas dos homens simples, da sua cognição, das suas manifestações culturais e sociais, das suas lutas e dos seus testemunhos históricos.

A segunda cegueira é atribuída, basicamente, ao senso comum e à cultura oral, essa última, por ser o canal diverso de produção de sentido e de circulação dos saberes culturalmente e tradicionalmente produzidos nas/pelas diferentes tribos e comunidades do mundo. A cultura oral ou, em outros termos, os grupos que não possuem o poder da leitura e da escrita, são historicamente excluídos do acesso aos sentidos, saberes e ações que a cultura letrada permite acessar, por exemplo, como o faz as minorias dominantes que possuem a letra. A falta do acesso aos bens simbólicos da cultura letrada de elite não permite com que os subalternos, os ditos pouco letrados, acessem o trabalho em condições mais especializadas e os conhecimentos e códigos letrados úteis á sua sobrevivência, como por exemplo, a capacidade de transitar em outras culturas e novas realidades históricas, geográficas e lingüísticas, por exemplo. A segunda cegueira, nesse sentido, se configura pela ausência de uma “luz” para o exterior da cultura oral e que através dela os ditos poucos letrados possam migrar dos seus lugares para outros ainda então desconhecidos; e que através dela possam “iluminar”, evidentemente, não em termos absolutos, o mapa do conhecimento, do lugar e da história alheios, dos bens produzidos por tantas gerações, em tantos lugares distintos e distantes.

A terceira cegueira é atribuída aqui à tentativa de dar sentido ao dito fim da fronteira entre a cultura letrada e a cultura oral, sinalizando o desmonte das dicotomias e das polarizações entre o letramento e a oralidade, por exemplo, muitas vezes sob a proteção de um revestimento meramente estético. Essa operação de desmonte dos pilares sólidos dessas culturas em muito pode estar contribuindo para o surgimento disso que estamos chamando de uma terceira cegueira e que parece ganhar espaço em novos quadros ou paisagens conceituais que estão se formulando na base de explicação de novos trabalhos sobre o letramento situado. Esse componente teórico, a nosso ver, se não resulta de um rigor analítico tão necessário à investigação em linguagem, poderá também se encerrar no mero revestimento estético categorizado pelo pressuposto. Em outros termos, poderá obscurecer ou negligenciar, por exemplo, as interferências mútuas entre as culturas que certamente nem sempre apresentam a mesma configuração, grau de circularidade e traços que se (des) estabilizam entre elas.
A rigor, a mistura cultural e lingüística não lembra, pelo menos em termos absolutos, a diluição de líquidos em um mesmo recipiente, conforme parece sugerir algumas análises mais empolgadas do hibridismo na relação cultura oral e a cultura escrita. Esse tipo de análise especulativa não resolve o problema das duas cegueiras já descritas, não empodera nada, nem ninguém, apenas poderá institucionalizar uma nova, uma terceira cegueira.

[1] Doutor em Lingüística Aplicada, Professor Adjunto da Universidade do Estado da Bahia – UNEB, Pesquisador do Grupo Letramento do Professor –IEL/Unicamp.
[2] Texto inspirado nos debates ocorridos no IV Seminário do Grupo Letramento do Professor ocorrido em agosto de 2007, no Instituto de Estudos da Linguagem – IEL/Unicamp. É também inspirado na obra de Boaventura de Sousa Santos sobre a sua “Crítica da razão indolente” (Santos, 2002). Devo adiantar também que são reflexões que compartilho com muitos outros, mas que pretendo levar adiante e até ampliar, sem a necessidade de citações explicitas.

DELÍRIOS


Sou tão obvio que fico imaginando que não preciso te dizer nada. Simplesmente é indescritível o estagio de transmutação da consciência. Basta encontrar o ponto de ruptura, o momento de sair dessa esfera e sublimar, deixar todas as palavras e emoções palpáveis lá fora, ao relento e frio da noite, perceber que sua visão não é para fora, e sim para dentro, e ir seguindo os passos de seus olhos fechados, e você parado fisicamente, deitado, sentindo as pernas distante, ou próxima demais dos olhos, seus dedos entram na boca e você começa a caminhar dentro de si, ao avesso, o liquido de seu corpo é um mar onde se pode navegar e não tem como dizer quais cores e quais formas, porque aqui fora de mim, isso não é palpável, sendo assim, tal qual o prazer, o orgasmo, o delírio não é possível descrever nitidamente, mas querendo, se entregando e seguindo os passos, é possível viver o momento mais seu de sua existência, quando todos os seus medos conflitantemente são vencidos e o tempo, deixa de existir, toda a sua vida e memória passam em seus impulsos elétricos e a comunhão da vida de todas as outras pessoas percorrem os sentidos da integração, de uma folha caindo, ao ponto luminoso que entra pela greta do telhado. Somos o próprio universo e nosso encanto ao ver esse mundo material (paisagens naturais, aves coloridas, canto, filmes de amor...), vem dessa dimensão, de que é fascinante redescobrir que é possível estar juntos, ser um, ser todos e não ser nada. Ai chega o momento em que você entra em crise e luta pra ficar e ao mesmo tempo tenta sair, e os líquidos vão sendo dispersos ao ponto que você começa a voltar, e não existe diferença entre olhos fechados e abertos, se estiver concentrado em si mesmo, e perceber que existe a necessidade do outro, que preciso sair daqui de dentro de mim, tanto quanto preciso ficar, mediar os caminhos e a sensibilidade do estado atual. O agora, que acaba de passar, e tudo vai seguindo seu ritmo.
(Caio Fernandes, cursando Ciências Sociais na UFCG)





A IMPORTÂNCIA DO BOCA DO INFERNO – OPINIÕES

Quando este veículo deu a partida, muitos não acreditavam, outros tantos combatiam ou torciam pelo fracasso. Alguns embarcaram e contribuíram para essa viagem em determinado tempo, inclusive o autor deste texto. Com críticas, como deve ser todo processo de construção coletiva que pretenda ser libertário, fomos descendo dos vagões, mesmo em andamento. Neste momento, que esta revista vai fazer 10 anos, quero saudá-los pela coragem e persistência em continuar semeando criticidade naquele terreno árido com a perspectiva de colher libertação. Acertos e erros são apenas visões diferenciadas de um determinado fato histórico. Ousemos continuar sonhando e construindo a sociedade do futuro, ou seja, uma sociedade sem oprimidos e sem opressores. Um forte abraço. João Setão, direto de Brasília.


NÃO LEIA O BOCA DO INFERNO
Uma grande besteira que fiz em algum tempo desses dez anos foi ler o Boca do Inferno. Que perda de tempo! Foi no Boca do Inferno que ouvi falar pela primeira vez de Nietzsche, Freud, Foucault. Boas pulgas atrás da orelha e boa curiosidade, mas daquela que mata, não os bechanos, mas a ignorância! Foi no Boca do Inferno que se chamava a atenção para a esquerda violeira (que pega com a esquerda e toca com a direita) da velha Canabrava que era, na verdade, uma nostálgica oposição. As frestas de esquerda estão no pé da serra: é preciso transformá-las em boqueirões! Depois, o Boca do Inferno foi um dos lugares em que escolhi, armado de Marx, Gramsci, Thompson e de uma teoria que não é idealista e uma prática que não é voluntarista, para botar a boca no mundo e dizer que não está tudo bem, que tudo não tem que ser assim!Não leia isso. Depois não diga que há unanimidade em Uibaí e, muito menos, que ela é burra.(flávio dantas martins, estudante de História)
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É interessante a provocação que a revista Boca do Inferno faz... É assim uma coisa bem diferente do que nós estamos acostumados a ver em outros meios de comunicação. A gente sente muita falta desse tipo de elemento crítico presente nos textos da revista Boca do Inferno. Então, que não demore a sair o número seguinte e que vocês continuem realmente com essa linha crítica e ao mesmo tempo cultural que é assim bem vista e bem comentada por aqueles que conhecem a imprensa e a comunicação em si. (Gervásio, jornalista e assessor político)


Boca do Inferno é uma forma inteligente de mostrar as idéias, principalmente, sobre política e cultura, um caderno que, além agregar muito valor, dá oportunidade a jovens escritores que estão surgindo. (Joaquim Oliveira Machado, estudante de Administração)


Li o Boca do Inferno nas ocasiões em que chegou às minhas mãos e acho importante porque é uma forma nova de comunicação, de denúncia, de debate e de reflexão.
( Zé das Virgens, Deputado Estadual)


Sou um leitor assíduo do Caderno Cultural Boca do Inferno. É um caderno que todo mundo deveria ler, pois tem mostrado uma postura interessante para a sociedade uibaiense, sobretudo quando reflete sobre a política social e cultural no município.
(Djalma Silva, ativista cultural uibaiense)


Boca do Inferno se tornou um meio de comunicação bastante importante para a comunidade de Uibaí. Tem sido um grande aliado na transformação e conscientização dos jovens, na abertura do conhecimento e no crescimento sociocultural do município. (Lívia Oliveira Machado, Socióloga)