31 julho 2010

BOCA DO INFERNO - 58 : QUANDO O EFEITO APAGA A CAUSA

Os jornais e revistas de hoje estampam em suas primeiras páginas mais uma do lullismo. Acuado pela oposição que passou a usar politicamente o caso da mulher iraniana condenada à morte pelo regime ditador do seu amigo Mahmoud Ahmadinejad  , Lulla subiu ao palanque de Dilma em Curitiba para dizer que vai pedir ao ditador seu amigo que envie a iraniana condenada por adultério à pena capital para o Brasil. Nós daremos asilo a ela, disse Lulla. Mas Lulla afirmou isso depois de dizer que a situação era delicada, pois interferir nos assuntos de outro país fere a soberania. 
O cinismo e a mentira realmente são marcas dessa gente. Em  momento algum Lulla se preocupou com soberania quando tentou forçar a volta de Manuel Zelaya (amigo dele e do chavismo) ao poder em Honduras. Sequer se incomodou em enfiá-lo na embaixada brasileira clandestinamente e sustentá-lo por três meses à revelia das decisões democráticas daquele país que lutava para não ter sua constituição espezinhada por um golpista bancado pelo bolivarismo.
Houve um tempo em que o petismo, estufa de onde saiu o lullismo, se vangloriava de alardear que não adiantava atacar os efeitos dos problemas sociais. O certo seria atacar as causas.  Isso provocava certa animosidade nos militantes, causada pela lógica elementar, que os motivava a sentir ódio por aqueles e aquilo  que o petismo apontasse como a causa dos problemas sociais. E havia toda uma sociologia vagabunda de panfleto criada  a partir dessa conversa para engabelar o rebanho. Na atualidade, como a gente já viu que o petismo pesa diferente a mesma coisa, a depender se ela está a seu serviço ou contra, a tática da causa/efeito está meio que no ralo. A situação da iraniana que vai ser apedrejada covardemente até a morte é apenas efeito de toda uma mentalidade que Ahmadinejad representa e protege e exalta. Ahmadinejad é parte da causa e agora?  Agora, deve pensar Lulla, nada de atacar a causa. É hora de bravatear, de acionar o cinismo mais descarado e contraditório. Há braços!

FARCS COM OS DIAS CONTADOS!

Essa briguinha encenada por Hugo Chaves contra a Colômbia é mais do que parece. Na verdade, havia 1500 guerrilheiros das Farcs fazendo não sei o que na Venezuela. Mas se todo mundo já sabe das relações da turma do Chapolin com a narco-guerrilha por que tanta cena? A questão é simples: o presidente Colombiando que assume agora em agosto é o ex-comandante da defesa colombiana que massacrou as Farcs nos últimos anos. É óbvio que no governo ele vai acabar de vez com a guerrilha e para isso vai contar sim com as bases americanas no território colombiano. Como essa gente bolivariana tem planos bem anti-democráticos para a américa latina e conta com uma ajudinha dos companheiros das Farcs, dá para entender que a patacoada teatral de Chaves é parte de um plano armado. 
Primeiro Chaves faz o teatrão raivoso, corta relações com a Colômbia, como se fosse Uribe que estivesse protegendo os malas das Farcs. Logo em seguida aparecem os idiotas do lullismo querendo mediar a falsa briga que eles planejaram junto com Chaves para em seguida acontecer o que ocorreu esta semana: o chefão das Farcs publicou um video no qual diz querer começar um diálogo com o novo governo para por fim à guerrilha e retomar a vida no ambiente democrático. Tudo muito fácil, não é? A tese Chavo-lullista é a seguinte: na atual conjuntura fica mais fácil tomar o poder pela via democrática. As Farcs estão perdendo tempo embrenhadas nas selvas. O lucro com a cocaína e a prática de sequestro já renderam o que podia render e hoje não facilitam as coisas, pelo contrário dificultam ainda mais a intervenção dos aliados Lulla, Morales, Correa, Ortega, Chaves, Raúl Castro, Lugo, Mujica e kischiner. Para as Farcs terem o Estado colombiano nas mãos, engrossando ainda mais o bloco bolivariano na américa, elas precisam pegar o caminho da institucionalidade. Não existe outra saída. Ou acaba a guerrilha ou ela será exterminada a curto prazo. Resta as Farcs, para não se entregarem humilhadas, seguir o planinho do Chavo-lullismo. A gente sabe que o novo presidente da Colômbia não vai cair nessa jogada. Até porque não existe crise alguma  na região e se existisse a diplomacia brasileira não inspira confiança alguma já que vem se prestando a dialogar sempre a favor de aliados estando eles certos ou não. Há braços!

30 julho 2010

AÇÕES INDISSOCIADAS PELA HUMANIDADE


A era de produção intensa e veloz em que vivemos suscita preocupações e questionamentos os mais variados. A voracidade com que somos tomados pelo consumismo, com que respondemos à descartabilidade de bens e produtos assusta aos mais reflexivos.  Esse ritmo de consumo acelerado no qual o planeta mergulhou leva os mais atentos a algumas conclusões: se seguirmos com essa lógica de consumo, chegaremos ao esgotamento dos recursos naturais e esse processo de esgotamento já dá sinais catastróficos com o que vem sendo chamado de “Aquecimento global”. Como saída para essas conclusões aparecem ações que redirecionam o posicionamento diante do uso dos recursos do planeta. As variadas propostas de reciclagem e de reutilização de matéria que antes era descartada passam a ganhar status de preocupação com o equilíbrio da Terra. As noções de sustentabilidade e de exploração racional começam a dominar os espaços de comunicação e setores governamentais no mundo.
A maneira como essas preocupações tem ganhado destaque é questionável. A tese do aquecimento global, a preocupação com a natureza passou a ser um elemento publicitário positivo. Não se questiona, por exemplo, se a terra é um organismo vivo que tem seus ciclos geológicos; que tem períodos mais árticos e períodos mais quentes e cujo metabolismo vai sofrendo naturalmente efeitos e alterações em períodos alternados ou adaptações fisiológicas ao espaço em que se encontra. Em sentido amplo, a preocupação ambiental virou uma espécie de discurso publicitário que produz dividendo e aumenta o lucro de empresas que continuam praticando o desperdício e a destruição desnecessária do meio ambiente.
Fora dessa lógica de mercado, mas no interior do jogo político mundial que elegeu o tema do aquecimento da terra como estratégia de hegemonização dos espaços de poder planetário atuam células de resistência e de organização e realização de práticas realmente preocupadas com a restituição ou manutenção da qualidade de vida tendo em vista a convivência harmoniosa com o ambiente, com a natureza. Essas células são pequenas ONGs ou associações que trabalham não apenas na exploração publicitária das questões ambientais, mas principalmente no redirecionamento dessas preocupações para um campo de consciência e práxis preocupado em estabelecer um perfil de humanidade que agregue as preocupações ambientais como parte do seu modo de ser cotidiano.
A ação dessas organizações se aproxima daquilo que Félix Guattari chamou de três ecologias. A luta por uma nova humanidade passa como nos faz crer Guattari por uma Ecosofia, por um viés crítico e prático que leva em conta a existência de uma ecologia mental, uma social e outra natural. Esse viés considera ainda que a relação entre esses três registros é intrínseca, ou seja, não há como praticar uma ecologia natural negligenciando a ecologia mental e a social, sem cair no vazio ou no charlatanismo publicitário. A saúde mental é indissociável da saúde social. Um indivíduo doente alimenta um meio social doente bem como um meio social doente gera o indivíduo doente e estes em consequência destroem o meio ambiente que, destruído, interfere negativamente em suas vidas. A preocupação com a natureza, desse modo, não pode excluir a preocupação com a educação, com as subjetividades estranguladas, com a pobreza, com a fome endêmica, com a violência...
     Entre as diversas células de resistência que militam no meio social encontramos as ações articuladas de dois grupos cujas preocupações convergem para essa visão ecosófica postulada por Guattari: A ONG 4 Elementos  e o Caderno Cultural Boca do Inferno. A ONG 4 Elementos, presidida pela bióloga Carmencita Tonelini, é uma associação civil de caráter socioambiental, sem fins lucrativos. Seu quadro de associados é composto por profissionais e voluntários das mais diversas áreas de conhecimento, que atuam em diversas frentes e projetos compreendendo as três faces inseparáveis da atuação ecológica. São trabalhos realizados em parceria com instituições públicas ou privadas que envolvem gestão e gerenciamento de resíduos sólidos e líquidos, gerenciamento de resíduos hospitalares, relatórios de impacto ambiental, recuperação de áreas degradadas, implantação de trilhas ecológicas, manejo de área de proteção permanente etc.
     Além dessas atividades e projetos mais voltados para a fisiologia do meio ambiente, a 4 Elementos desenvolve projetos e atividades que não dissociam as faces sociais e subjetivas da sociedade. Entre suas ações estão os projetos de educação ambiental, de geração de renda e de eliminação da pobreza, todos eles vinculados a questões ambientais e de cidadania. Desde 2007, quando foi criada, essa organização mobiliza setores da comunidade e nichos empresariais buscando, por meio da implantação de projetos ecológicos específicos instaurar uma mentalidade que desassocie a produção de bens e a exploração dos recursos naturais, das práticas predatórias, responsáveis por desequilíbrios sociais e por destruição ambiental.   Pela sua luta incansável, essa organização não governamental vem recebendo não somente apoio da sociedade, como também reconhecimento internacional. Em 2009 ganhou Menção Honrosa do Instituto Internacional para o Desenvolvimento da Cidadania (IIDAC) e Programa Voluntários das Nações Unidas (UNV) pelos projetos: Educação ambiental, lições para a vida; Campanha de coleta de óleo de fritura: o planeta agradece; Resgate seu bairro e Ser voluntário.
    
     A 4 Elementos vem desenvolvendo intenso diálogo e elaboração de projetos conjuntos com o grupo organizado do Caderno Cultural Boca do Inferno. O Boca do Inferno, cujo nome é uma homenagem ao poeta seiscentista da Bahia, Gregório de Matos Guerra, vulgarmente conhecido como o Boca do Inferno, surgiu em 1998 e desde então tem atuado principalmente na área de educação e cultura. Seu principal eixo é a ecologia mental é o questionamento das práticas políticas e da constituição dos processos de subjetivação e seus reflexos nas instâncias sociais e ambientais. Nos seus anos de atuação o Boca do Inferno participou da organização de Semanas de Arte e Cultura, da publicação de livros para novos autores, da fundação de grupos teatrais e casas de cultura, desenvolveu projetos como o Ventana Abierta, o Praça Inquieta, o Publicações Boca do Inferno,e ações de valorização da cultura popular. No atual momento mantém seu espaço de publicação periódica com o blog e a revista artesanal Boca do Inferno, desenvolve o projeto de Arte Reciclagem e prepara uma parceria com a 4 Elementos em projetos de Arte Reciclagem e Guarda Mirim Ambiental. Um dos campos de atuação de maior interesse do Boca do Inferno é a reflexão sobre a linguagem, principalmente a reflexão que desmistifica os jogos retóricos utilizados pela publicidade e pelas mídias em geral. Há braços!

BRAVATAS E CONVERSA PRA BOI DORMIR

O comando central do lullismo meteu o chute no presidente dos Correios. A conversa mole jogada na imprensa é de que faltava eficiência administrativa nos Correios. Diz Lulla que os correios não vinham dando lucro e ainda atrasava entregas... blablablá, blablablá!Quem engole isso? Se fosse verdade, se o lullismo fosse tão preocupado com eficiência administrativa e tal, a própria Dilma Rousseff teria sido defenestrada da Casa Civil muito antes de se tornar candidata. O tal PAC-1 (já inventaram o 2) não saiu do papel, na realidade apenas 3% do que foi proposto se realizou, o resto é propaganda e má-fé. Desse modo Dilmona regente-mor do tal PAC deveria ter sido chutada da Casa Civil por incompetência. Mas não, ela é a substituta de Lulla e como esse povo gosta de bravata mesmo, já tratou de inventar outro PAC como se o primeiro tivesse sido o maior sucesso. E tem gente que já fala desse PAC-2 como se ele existisse. Se o um ficou nos 3% como pode existir o dois? Ai, ai! Mas se não foi exatamente incompetência o que derrubou o presidente dos Correios e sua equipe, o que foi mesmo? Estamos diante do óbvio ululante: ano eleitoral, crise no DF, Agnelo Queiroz, negociações e amarrações para garantir apoios ao avatar Dilma Rousseff Stalin, dá para captar? Há braços!

29 julho 2010

NO RASTRO DA MPB

Hoje vou dar uma palavrinha sobre MPB. Desde muito tempo, seja  no meio universitário ou nos meios mais descolados, não se questiona muito qual é o melhor tipo de música produzida no Brasil. Basta olhar perfis de orkut, facebook, blogs etc para matar a charada. Onde está escrito estilo musical preferido, o povo taca logo MPB sem titubear.  Mesmo preferindo ouvir Arroxa, Calipso ou Sertanejo, registra lá MPB. É uma questão de parecer inteligente, marca grudada na MPB pelos esquerdistas. De fato, o estilo MPB tem uma tradição de qualidade constituída na origem cuja característica principal é unir bons arranjos melódicos a letras em que predominam certas preocupações poéticas. Hoje isso não tem muito cabimento. Se pegarmos Chico Buarque e Caetano Veloso, dois estilos distintos, porém consolidados desse tipo de música, confirmamos essa preocupação com  harmonia e arranjo e com a elaboração poética das letras, coisa que muitas vertentes musicais discriminadas por gente estreita  fazem atualmente com igual competência.
 MPB é uma sigla estranha. O conteúdo que viceja por trás dela não é tão popular quanto o nome indica, nem tão brasileira quanto se autodenominou no início, seguindo o nacionalismo barato da esquerda da época. O que chamamos de MPB nasceu propriamente em 1965, a partir das fusões melódicas da Bossa Nova, criada um pouco antes a partir das experiências com o Jazz, o Samba e o Bolero. A batida de João Gilberto e seu modo sóbrio e sereno de realização musical ganhou imitadores apaixonados no meio artístico e musical. Mais adiante, como esse meio era dominado por correntes comunistas, passou-se  a unir a boas invenções melódicas causas sociais, temas ideológicos e experimentações poéticas, como orientação imperativa. O ponto de equilíbrio dessas experiências foi atingido a partir de 1965 com o primeiro Festival de Música Popular Brasileira. Ao longo dos festivais, pari passu com a conjuntura política brasileira, permeada por certa hegemonia cultural da esquerda, as preocupações sociais viraram quase que uma obrigação nas letras de canções. Mas a MPB nunca foi popular. Foi, isto sim, uma vertente de elite, moldada no meio universitário e no fervor de reuniões intelectuais. A música realmente popular naquele período foi a da Jovem Guarda. Música fácil, de massa e que levou multidões ao delírio. Como se pode constatar, a sigla MPB é inadequada até hoje. Música Sertaneja, Arroxa, Axé e Calipso são bem mais populares. Na verdade, na década de sessenta mesmo havia gente que chamava MPB, de forma bem mais pertinente, de Música Moderna Brasileira, ou seja, MMB, mas MMB não tem o mesmo apelo retórico e político que MPB.
Depois que a MPB se livrou dos excessos ideológicos que quase a transformaram em panfleto político no fim dos anos de 1960 a vertente que explorava o viés mais poético nas letras tornou-se predominante e passamos a apreciar criações mais interessantes de se ouvir e mais duradouras. A vertente mais panfletária de protesto migrou para o Rock dos anos de 1980. É bem nessa época que vemos surgir bandas como Titãs, Barão Vermelho, Legião Urbana e Ultraje a Rigor, entre outras, que bancam em seus albuns entre algumas belas letras, panfletos vagabundos contra a polícia, a educação, a mídia, a religião, enfim, toda sorte de temas cristalizados pela esquerda como obrigação da música não alienada.
Hoje, usando uma expressão de Torquato Neto, a gente sabe que predomina a geleia geral na música brasileira. É uma bobagem ficar se prendendo demais a rótulos e a cerceamentos ideológicos toscos. Qualidade é uma coisa muito relativa. O que é muito popular nem sempre é ruim e nem sempre é coisa boa. Isso serve também para a impopular música popular brasileira. Há muita baboseira rodando e sendo louvada por aí nos circuitos  intimistas como se fosse a melhor música brasileira, a última bolacha do saco. Nada a favor e nada contra! Cabe ao leitor fazer suas escolhas e pronto! Há braços!

28 julho 2010

BRASÍLIA E O CAOS POLÍTICO

Brasília passa pela pior fase da sua história política. Mesmo com todos os defeitos políticos e sociais que pode ter uma Capital transplantada, ela sempre se pautou por alguma discrição e até mesmo certa frieza. Agora, a capital vê sua intimidade escancarada e o cheiro fétido que já exalava aqui acolá dos palácios e órgãos públicos tomou conta das ruas e largas avenidas. 
O principal responsável pelo estrangulamento político do centro do poder no país foi o Lullismo. As coisas começaram a ir longe demais devido à sanha oportunista do lullismo, quando na última eleição fraudulenta de Joaquim Roriz, toda documentada,com uso e abuso da máquina pública, esse Pantagruel inventado pelo petismo interveio subterrâneamente com a finalidade de assegurar a posse de Roriz à revelia de tudo, até mesmo do PT local. Garantida a permanência de Roriz, consolidou-se de vez a esculhambação política local e não podia dar em coisa pior. A farra com os recursos públicos contagiou tudo ao redor. Na corte de Roriz, os súditos vinham de todas as bases políticas. Deu no que deu! Há braços!

27 julho 2010

O MST E O BLEFE DA REFORMA AGRÁRIA: O BRASIL É A GRANJA DO SOLAR



Houve uma época que eu pensava ser o MST uma organização preocupada com a situação de miséria no campo, empenhada em lutar para que o homem do campo pudesse ter sua gleba com o fim de produzir e garantir uma vida digna. Engano meu... engano de muitos... Há pelo menos vinte e cinco anos esse movimento, escorado na clandestinidade jurídica, promove invasões, ocupações e arruaças no campo e nos centros urbanos... Há muito tempo ele recebe dinheiro público e terras e fazendas e insumos e assistência pública facilitada, mas não se vê retorno algum. O que se vê é a agressividade das ações crescer cada vez mais.
O fato é que o MST não está interessado em reforma agrária, em melhorar situação no campo ou algo que o valha. A ele interessa a revolução campesina e, pelo nível dos dirigentes, não é difícil entender que querem uma revolução à moda da Revolução dos Bichos, de George Orwell. Até porque seu Stedile não é, não foi e nunca será um camponês sem terra. É um vigarista, um tocador do rebanho de miseráveis, despojados de tudo, que o seguem na ilusão de  conseguir seu lugar ao sol. Stedile é apenas um burguesão, um aspirante a porco Napoleão, um chefão do petismo no mundo rural. O Brasil é a sua Granja do Solar.
Mas foi-se o tempo em que o MST vivia apenas da ostentação da massa andrajosa do campo, tão bem propagandeada por Sebastião Salgado, outro burguesão, rei do petismo fotográfico. Nos tempos do lullismo, eles recebem verba e armam acampamentos fantasma ao longo das rodovias pelo Brasil a dentro apenas com a finalidade de fazer pressão e conseguir mais verbas ainda. Nas rodovias que cortam a Bahia, por exemplo, há dezenas desses acampamentos vazios que se povoam com militantes das cidades mais próximas em momentos estratégicos e no resto dos dias e meses recebem um ou outro membro em revezamento para vigiar as barracas. Nesses dias de visita alternada não é raro se ver uma caminhonete nova aqui ou um carro zero km acolá encostado entre as barracas. É a Revolução dos Bichos a pleno vapor. A essa altura, Napoleão e Bola-de-Neve já devem estar palpitando de desejo, sonhando em passear sobre dois pés pelos confortáveis corredores da casa grande. Há braços!

26 julho 2010

PEDINTE TAMBÉM PAGA!

Neste período de inverno em Ilhéus as chuvas deixam o mar (permanentemente azul no verão) turvo e agitado. Essa mudança atrai turistas alternativos. Aos poucos se abancam nas praias com barracas e pranchas grupos de surfistas de origens variadas. O comércio turístico se recolhe no úmido dos estabelecimentos. Mas há uma birosquinha de esquina que não se  importa muito com a variação do clima e das estações do ano. Trata-se de um bar sem nome em uma esquina da rua Jacarandá em frente ao supermercado Meira, ali na saída para Olivença. O estabelecimento pode não ter nome, mas o proprietário tem nome de locutor de rádio: Mário Galvão. Seu Mário, um simpático senhor grisalho de camisa florida a la Jorge Amado, atende com atenção e cordialidade o meu pedido de informação, um pouco após eu ter comprado o cartão para recarregar o celular. Quero saber a respeito de um bom restaurante nas imediações. Ele pega no meu braço e indica uma esquina na rua adiante onde há, segundo ele, uma excelente churrascaria.  
De acordo com seu Mário, sua esquina é alvo dos folgados e desocupados de inverno a verão. Talvez por ser em uma área de concentração de comércio relativamente próxima à praia e diante de um dos grandes supermercados dessa terra grapiúna. Ali é visível o vaivém de gente pedindo copo d água, pleiteando fósforo para acender cigarro, solicitando informação, caneta para anotar endereço... Tanto tipo de pedido, tanto pidão e pedinte que não sobra tempo nem para varrer a varanda do boteco, diz o comerciante apontando para o chão malhado de areia, rastros e folhas.
 A paciência de seu Mário chegou ao limite quando  começou a aparecer frequentadores apenas para contar os próprios problemas e infortúnios domésticos. Mas ele resolveu por fim ao assédio inconveniente dos pedintes depois que fez um cálculo meticuloso dos gastos que angaria emprestando fósforos, servindo copos dágua, arranjando um inocente copo descartável aqui, um guardanapo solitário acolá, cedendo seu tempo para informações e gentilezas que poderiam estar a serviço apenas das pessoas que consomem no estabelecimento. Eram uns bons trocados perdidos no fim das contas. Então Seu Mário Galvão resolveu espantar os pidões afixando o curioso e divertido cartaz que segue ao lado na frente da birosca. A coisa pegou e virou folclórica, mas seu Mário, bem humorado, acaba se divertindo com o sarro dos pidões habituais que perderam a folga. Confesso que depois de ler o cartaz fiquei  meio sem graça e perguntei para o botequeiro com nome de locutor de rádio se ele iria cobrar pelas informações que me prestou, ao que seu Mário bateu em meu ombro sorrindo e dizendo: você já consumiu! Para consumidor é de graça! Há braços!

25 julho 2010

AS FARC FAZEM PARTE DO PROJETO PETISTA

O clima eleitoral começa a esquentar. E o petismo ensaia o tempo todo tapar o sol com peneira. Os petistas, via Fórum de São Paulo, têm uma ligação ideológica, política, tática e estratégica com as Farc. As Farc constituem uma organização criminosa. Sequestram, matam, têm campos de concentração na selva, produzem e vendem drogas para o mundo. São um bando, uma quadrilha com a capa vermelha da esquerda. Agora, o petismo e o lullismo tentam se desvencilhar da conexão com os narcoguerrilheiros puramente por conveniência eleitoral. Para isso, convocam um batalhão de jornalistas comprados e uma esquadra de jornais vagabundos. Lulla, que esta semana se comparou a Jesus Cristo novamente, certa vez disse, para justificar o enriquecimento meteórico e bastante suspeito do filho Lullinha, que seu filho era um Ronaldinho dos negócios. Ninguém caiu na conversa. Pois então, o petismo não tem ligação com as Farc tanto quanto Lullinha é craque nos negócios. Há braços!

24 julho 2010

O PAROXISMO AMOROSO


Segundo o Dicionário Aurélio Séc. XXI, fanático é aquele que se considera inspirado por uma divindade, pelo espírito divino; iluminado; que tem zelo religioso cego, excessivo; Fanatismo, poema de Florbela Espanca, poeta lusitana, que segue a forma fixa de soneto, reflete o sentimento amoroso exasperado em que o eu apresenta-se completamente tomado pelo outro, produzindo quase que a neutralização total do eu. Logo na primeira estrofe do soneto, a voz poética declara-se perdida, mas essa perdição não significa a falta de um caminho, ou a indecisão com relação a que rumo tomar, pelo contrário, reflete uma alma neutralizada, fechada para si na medida em que só consegue perceber o outro.

Minh’alma de sonhar-te anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não é sequer a razão do meu viver,
Pois que tu és já toda a minha vida!

Na primeira estrofe acima composta de frases feitas, comuns ao discurso amoroso: sonhar contigo, andar cego de amor, razão do meu viver, a poeta estabelece uma intensificação do estado de espírito natural ao sujeito do amor, diga-se a propósito, conforme Fernando Pessoa, estado em que as declarações amorosas ganham nuances ridículas, necessariamente ridículas, mas no qual ainda resta uma distinção entre o eu amoroso e o outro amado. No caso, o outro é a razão do viver do eu amoroso. Até o terceiro verso do poema, ainda se nota a separação entre o amante e o amado. A intensificação desse sentimento, entretanto, anula completamente o eu amoroso preenchendo-o com o outro, objeto do amor, como podemos perceber no enfático último verso da estrofe a que estamos nos referindo: Pois que tu és já toda a minha vida! Nesse caso, o eu dá lugar ao outro e apenas o outro existe ou necessita existir. Esse movimento de anulação da duplicidade que compõe o jogo amoroso ganha então tinturas de fanatismo.
O fanatismo, por apagar o eu amoroso, ganha tons de loucura, de ausência de critérios para julgar o mundo ao redor, aliás, o objeto amoroso passa a ser o mundo, porém um mundo restrito, estreito,  repetitivo e limitado que só o fanático, na sua ânsia louca, não o percebe como tal. Pelo contrário, esse ente, entorpecido pelo desejo amoroso, sente o outro como algo profundo, inexplicável, um mistério eterno a ser desvendado.

Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo o meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma coisa tantas vezes dita!

A segunda estrofe acima confirma a completa entrega a um sentimento obsessivo, fanático. Aqui, validando o conceito oferecido pelo Aurélio, o sentimento  alcança a devoção cega. O outro é algo divino, o mistério do mundo, um livro enigmático ao qual se deve dirigir a vida e os olhos incontáveis vezes em busca de conforto, porque o outro é tudo, é Deus.

Tudo no mundo é frágil, tudo passa...
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

Para o eu amoroso, tomado pelo fanatismo, só há uma verdade: o outro inflacionado, hiper-real que ele criou e o qual agora é o sentido da sua existência. Por esse ângulo, nada que não represente essa totalidade será digno de crédito. Toda conclusão que contrarie as expectativas desse eu fanático, a ele será motivo de riso, pois  ele está possuído e é possuidor dessa força eterna a qual deve adorar e seguir como um Deus: o outro é o Princípio e Fim!...

E, olhos postos em ti, digo de rastros:
"Ah! podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: Princípio e Fim!..."

Vê-se, assim, o fechamento categórico do soneto com a mais genuína declaração de fanatismo religioso. O objeto do amor adorado e celebrado como o princípio e o fim de tudo. O fanatismo amoroso descrito no poema, reflete a natureza ensimesmada do eu poético que se perdeu no sentimento amoroso, encontrando tão somente o outro em todo  e qualquer lugar para onde dirige o seu espírito.  HÁ BRAÇOS!

23 julho 2010

OLHA O CHAPOLIN AÍ GENTE!

A versão autoritária do Chapolin Colorado ataca novamente. Hugo Chaves, o fantoche do ditador moribundo Fidel Castro rompeu relações com a vizinha Colômbia. Tudo teatro barato. O fato é que sempre que se aproximam as eleições na Venezuela, o fracassado e incompetente governo bolivarista inventa alguma patacoada para criar animosidade na massa venezuelana, favorável à eleição de seus candidatos. A velha estratégia de insuflar o patriotismo ou o nacionalismo barato, comum em regimes totalitários, como forma de desviar a atenção do povo da situação de miséria social e institucional e proteger os ditadores responsáveis por tais desgraças continua sendo usado por Chaves e sua trupe. Detalhe: dessa vez o Chapolin da Venezuela estava ao lado do também fracassado Diego Maradona. De pantomima em pantomima esse tipo de gente vai se perpetuando no poder. Há braços!

20 julho 2010

UM MAMOEIRO

Um mamoeiro cordato
Puro silêncio  e distinção
Vulto retilíneo sob a chuva fina
Sem a companhia de ninguém
Amontoado de seios verdes
Como olhos tristes voltados para o chão
Sem o açoite do vento
 Salpicado pela persistência da chuva
Em suas folhas largas e indiferentes
Sem voz alguma que lhe denote a existência
Seja de  figueira, sofrê, limeira ou sabiá
Apenas a solidão retilínea
O toldo vazio no abandono do tempo.


19 julho 2010

CAPOTE E A ESQUERDA

Outro dia reli “O Capote”, de Nikolai Gógol.  De vez em quando é bom fazer um reencontro com a visceralidade da Literatura Russa.  O Capote é uma dessas novelinhas simples que se não fosse pelo fato de um casaco ser personagem mais do que o próprio personagem  Akaki Akakiévich, que se não fosse pelo fato de ser  criação de um dos grandes russos, passaria em branco.
Ali vê-se a que ponto um homem  transforma um objeto em obsessão, a que ponto um objeto, dentro de uma degradação neurótica,  transforma um homem em coisa.  Como o desespero desfigura a vida e a realidade; como o apego cego ao capote faz com que o homem se pulverize ao perdê-lo. Akaki, depois de ter seu casaco roubado, perde-se  de si mesmo.  Dilui-se ao leu. Enlouquece e morre, retornando como uma sobra na noite fria a atormentar todos aqueles que usam capotes.
Essa  releitura casual da narrativa de Gógol  acaba me fazendo lembrar de certa turma da esquerda.  Eles  e suas causas muitas vezes absurdas, grudadas na pele como o capote de Akaki  Akakiévich; eles  às vezes tão viscerais em suas superficialidades, em seus dramas morais e em suas defesas retóricas que sequer conseguem enxergar os abismos  que cavam  para cair mais adiante. Que sequer sentem o destroçar das fantasias e quando se dão conta, se pulverizam ao leu como Akaki Akakiévich sem o seu capote. Há braços!

15 julho 2010

BOCA DO INFERNO-57: O OURO DE MURIBECA- I

A algazarra de pardais na copa do coqueiro ao lado da casa contrastava com o leque solar que se abria lentamente no horizonte. A manhã se anunciava mais uma vez no sertão. Segunda-feira. Ali é dia de feira, dia de repor a dispensa da semana. Ele sarrabuiou água fria no rosto, depois foi cutucar o braseiro sob a trempe do fogão de lenha com o tino de passar um café fresco. Feito isso, rodou a tramela da porta dos fundos e dali mesmo do batente atiçou umas quatro mãos de milho às galinhas que já tumultuam o terreiro. Mais nada. Ele era ele! Só ele! Ele só. Sem nome nem nada. Apenas um homem solitário, rústico e desinteressado de lordezas. O olhar morto, antigo como a casa de taipa que o abrigava,  não carregava mais do que amarguras, esforços inúteis e rompantes tímidos pela sobrevivência. Passou a vida inteira correndo trecho pela serra em busca de uns tais entaipados, de um tal ouro de Muribeca. Perdeu tudo: família, esposa, amigos. Tudo e todos em função de seus delírios.
A história de Muribeca correu solta por muito tempo naquele pedaço do sertão. O homem sabia que se tratava da história de um senhor português, dono de minas de ouro nas lavras de um povoado da chapada, que sobreviveu a uma rebelião selvagem dos escravos da mina próxima à casa grande. Consta que esse senhor, conhecido pela alcunha de Coronel Moreira, chamado pelos escravos de Muribeca, embrenhou com a família no bravio da caatinga a fim de escapar da fúria de uma centena de negros revoltados. Arrastou consigo o que pode: a mulher, duas filhas e seis mulas com bruacas abarrotadas de ouro.  Perdido na brenha das matas espinhosas, viu tombar os membros da família um a um com o sangue fervendo de malária. Antes de morrer abatido pela doença tratou de esconder seu  ouro em lugar longe da vista dos cobiçadores.

Essa história tanto rondou a cabeça do homem que acabou enredando sua vida. Tivera aos 25 anos um sonho revelador... Seu destino, sua desgraça. No sonho, aparecia um velho barbudo com um pote debaixo do braço cheio de moedas de ouro. O velho dizia que aquilo seria dele, se ele não desistisse de buscar, e antes de se apagar como névoa no sonho, indicou a direção da serra. Aquela imensidão de serra. Desde que tivera o maldito sonho não descansara. Viveu a rodar por grotas, boqueirões e encostas. Garimpou cristais, desavenças, doenças silvestres e até mesmo veneno de cobra, mas nada de entaipado, nada de pote, nada de ouro. A esposa desistiu de sofrer com a ausência do marido e com sua presença delirante, encasquetada, ensimesmada, sem outro assunto que não o sonho, o ouro, os entaipados. O velho disse, o velho... Ele veio e disse e eu vou achar... É meu ele disse . Um potão cheio. Guenta, isso é pouco leite perto do que vem. O velho disse, o velho barbudo. Muribeca! Assim atravessava as madrugadas num entra e sai danado do casebre, picando fumo, tomando café, pitando e matutando onde mais poderia estar essa dádiva que o velho lhe revelou num sonho. Não desistiria nunca, jamais. Não era homem de dar pra trás, de correr do destino.
Foi então que numa tarde cismou que a coisa tava enterrada no boqueirão do urso. Juntou a capanga com uma socadeira, assoviou para o cachorro magro e mais uma vez bateu perna para a serra. A noite já ia alta. o breu engoliu tudo . Só silvos, ruidos, zumbidos e gorjeios estranhos lhe faziam companhia. A caatinga braba e o pedregulho iam sendo vencidas com sofreguidão por aquela mente determinada, por aquela alma incutida.

13 julho 2010

LULLISMO E CINISMO, TUDO A VER!

Guillermo Fariñas,  preso político cubano em greve de fome que durou 4 meses
Reparem como o cinismo é uma marca clássica dessa gente lullista. Este blog comentou em algumas postagens durante o ano de 2009 o alinhamento do governo com regimes autoritários, criticou a intervenção brasileira em Honduras, criticou o comportamento desprezível de Lulla com respeito à morte do pedreiro, preso político da ditadura cubana, Orlando  Tamayo, quando o pedreiro, morto por abandono em uma greve de fome pela libertação dos presos políticos de Cuba foi comparado a bandidos comuns por Lulla e ignorado em favor da ditadura dos irmãos Castro. Enquanto pessoas inocentes continuavam presas em Cuba, Lulla investia 600 milhões de dólares na reforma do porto de Ariel, detalhe, os nossos portos continuam lascados.
Mas a pressão internacional aumentou, e a greve de fome de outro preso político, o psicólogo Guillermo Fariñas, aumentou a mobilização internacional contra a picaretagem do regime cubano. Encurralado, Raúl Castro se viu obrigado a libertar agora 52 presos de consciência. Isso foi mérito da mobilização internacional, da pressão de povos democráticos, mas o que disseram  esta semana os cretinos Celso Amorim e Marco Aurélio Garcia, os cérebros internacionais do lullismo e do cinismo, sobre a libertação do presos de Cuba? Acreditem! Eles disseram que foi o lullismo quem libertou os 52 presos políticos cubanos. Pode? Óleo de peroba é um produto em extinção no soviete lullista. Lulla quando esteve em Cuba na época da morte de Orlando Tamayo, além falar as cretinices que falou sobre o morto, sequer quis receber uma carta dos presos pedindo ajuda, pedindo mediação para a situação cubana. Ah é, tinha me esquecido ele só faz mediação em favor de ditadores como Ahmadinejad e Zelaya !  Há braços!

12 julho 2010

SOBRE IDIOTAS E IDIOTICES


Hoje me lembrei de quando laçaram aquele filme Lamarca. Lamarca era um completo idiota. Quem morre naquelas circunstâncias e fazendo o que ele se propunha a fazer não bate bem da cabeça. Embora a biografia do Capitão Lamarca fosse de uma pobreza gritante,  ainda tentaram transformar o sujeito em heroi. Por falar nisso,  nos anos oitenta havia um vizinho no Pé-de-galinha, filho de Bamba, que guardava um livro sobre Lamarca escrito por um vigaristinha desses que engrossam as fileiras do PT, um tal de Emiliano José,  um sujeito meio troncho da cabeça, meio esquizofrênico que só abre a boca para falar da ditadura militar e defender a ditadura cubana e a venezuelana como ninguém. Pois bem, esse  vizinho tratava o livro de Emiliano como se fosse uma coisa muito importante,  uma coisa muito valiosa e sagrada e proibida e secreta. Deu um trabalhão para ele me emprestar a porcaria do livro.  Na época eu, cheio de inocência e de estupidez ideológica me indignei com os maus tratos que sofreram aqueles camponeses de Buriti Cristalino. Se soubesse que pelo menos setenta por cento do que estava escrito ali era vigarice pura bordada pela mão panfletária do tal Emiliano José  certamente teria dado mais crédito às desconfianças que pipocavam aqui e ali durante aquela leitura adolescente.  Fui enganado tanto quanto Ronaldo de Bamba que me emprestou aquele amontoado de cretinices em formato de livro.
Quando saiu o filme, e era disso que pretendia falar em primeiro plano, fui ver uma apresentação na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Goiás (UFG), onde estudava. Um professor  daqueles de barbichinha de Lênin  e sandálias de couro iria comentar  a boniteza de filme que os Barreto fizeram  sobre o comunista Lamarca. Para minha surpresa o cara tacou o porrete no filme, mas não porque o filme era de uma idiotice deplorável e sim porque, acreditem, havia no filme, segundo  o barbichinha de Lênin, um ranço pequeno- burguês. Aí  o Lênin de precata nordestina da UFG apontou  a cena do filme em que a companheira de Lamarca foi abatida dentro de um apartamento em Salvador. E soltou farpas revolucionárias defendendo que o filme ficava muito preso à intimidade, ao ambiente fechado de apartamentos etc , coisas tipicamente burguesas, segundo aquele sábio militante. Ou seja , na visão crítica do imitador de Lênin a porcaria do filme deveria ser mais idiota ainda.
Recordo que na época, mesmo ainda com cara de idiota, iludido com a conversa fiada dessa gente, já não era mais inocente e fiquei a refletir sobre  o quanto é boçal taxar a individualidade e  a intimidade como coisas “pequeno-burguesas”  como se isso fosse um crime, a violação de um tabu ou algo que o valha. O Lênin da UFG não disse nada da cena patética daquele tal Zequinha fictício arrastando feito um jumento  um Paulo Betti nas costas,  com aspecto andrajoso e uma expressão de imbecil indescritível e nem daquela cena final de Lamarca estendido com os braços abertos como se fosse Cristo crucificado.  Disso ele não falou . Para o barbicha, o ridículo Capitão Lamarca era mesmo um heroi, um salvador crucificado pelo sistema e aquela comparação caía bem como estratégia de enganação das massas. Todo mundo já sabe como esse povo gosta de inventar mitos e causas.
Mas para quê relembrar experiências tão toscas? A resposta é simples, para os desavisados perceberem com que tipo de matéria tem sido feita ao longo dos anos a cabeça dos universitários. Para dizer também  que a maioria deles sai da faculdade diretamente para a sala de aula levando consigo um rol de bobagens e condicionamentos ideológicos propícios a reproduzir a mesma besteirada de que foram vítima. Poucos se dão conta de o quanto foram enganados e de o quanto reproduzem a enganação. Há braços!

11 julho 2010

QUEM PODE MAIS?

Eu não aguento essa conversa mole
ninguém me salva, ninguém me abole
não tenho jeito, só mesmo o tempo 
é quem me engole.
mas me vomita de tempo em tempo
sou indigesto, vou pro relento
quem pode mais que o próprio tempo?
quem se remexe, em movimento
mata a dormência
mata o silêncio
quem pode mais que o próprio tempo
é mais que Zeus, é mais que o vento!
Não tenho forma, não tenho fôrma
tenho desejos
tudo eu invento.
(dioniso tamanduá)

09 julho 2010

MITOS SÃO CONSTRUÇÕES E NÃO ESTÃO LIVRES DA DEMOLIÇÃO

Ao lado, A condição humana (1934), pintura de René Margritte.
Sou do mundo da linguagem, acho que já disse isso por aqui em algum lugar. Pensar por esse caminho quer dizer um monte de coisas. Para mim, em princípio, quer dizer que a linguagem   ( linguagem em sentido  bem lato) estabelece a ordem num mundo sem ordem. Se a ordem do mundo é uma construção, o que move o meu espírito é a preocupação constante de saber como se vai montando a ordem ao longo do jogo simbólico ininterrupto. Quem atribui sentidos a determinados signos e quem  organiza os sentidos em redes de significação que vão constituindo campos ideológicos? Sim, porque só há ordem se houver sentido. Importa-me saber e perscrutar, e entender como esses campos vão capturando indivíduos e sujeitando-os, melhor, transformando-os em sujeitos. Ou mesmo, como os indivíduos, com os desejos dispersos na massa simbólica e movediça, vão se territorializando, se fazendo sujeitos em zonas de intensidade. 
No texto anterior, manifestei minha descrença na pureza humana. Na verdade, estava apenas exercitando essa consciência de quem se sabe irremediavelmente preso ao mundo simbólico, de quem compreende a  impossibilidade de saltar para fora dessa teia de sentidos, mas que bem pode, sabendo-se parte dela, desvendar seus segredos e desatar nós desnecessários; cortar fios estúpidos e desacreditar  redes de sentidos nefastas, ou pelo menos apontar quem organiza os novelos e para quê. Nesse enredo, entra também a crítica que tenho feito a certos mitos, ou ao apego cego a mitos. Não há nada de purista na crítica. Não posso ser purista se não acredito em pureza. De fato, de tudo que tenho dito, não fica difícil concluir que mitos são importantes tanto quanto qualquer história real. Há bastante tempo Claude Levi-Strauss já postulara isso em estudos antropológicos consistentes.  Onde está o erro então? O erro está na vigarice com que muitos vêm  trabalhando na elaboração de mitos toscos, com a finalidade única de sustentar causas descabidas e enredos falaciosos. Desse modo, não ponham mitos de araque no meu caminho, pois faço questão de arrancar-lhes a falsidade e a má-fé pela raiz. 
O próprio Lévi-Strauss sempre demonstrou muita cautela ao tratar do assunto, como podemos perceber  na passagem de Mito e Significado a seguir: As histórias de carácter mitológico são, ou parecem ser, arbitrárias, sem significado, absurdas, mas apesar de tudo dir-se-ia que reaparecem um pouco por toda a parte. Uma criação «fantasiosa» da mente num determinado lugar seria obrigatoriamente única – não se esperaria encontrar a mesma criação num lugar completamente diferente. O meu problema era tentar descobrir se havia algum tipo de ordem por detrás desta desordem aparente – e era tudo. Não afirmo que haja conclusões a tirar de todo esse material.  Pois bem, vamos perguntar com Lévi-Strauss: qual a ordem "por detrás" do mito do Vicente Veloso heróico? A necessidade de quem ele vem satisfazer? Qual rede de sentidos ele alimenta? Qual teia ideológica ou fronteira territorial ele faz prosperar? Quem lucra com essa rede de subjetivação? Há braços! 

06 julho 2010

POR TRÁS DA PUREZA, O DURO MUNDO REAL

Eu não acredito na pureza humana. Acredito na pureza de qualquer animal que não urdiu um novelo de superioridade e bondade em torno de suas fraquezas, mas esse não é o nosso caso. Vivemos o tempo todo tentando evitar o que somos. Pulamos de barco em barco, de naufrágio a naufrágio, abraçados cada vez e sempre a sonhos e nunca nos afastamos desse porto solar atormentado pelas sombras inconvenientes da carne e do sangue. A pureza é uma construção relativamente recente e desde a sua invenção tratamos de afastar dela tudo que é humano, demasiadamente humano. Ser puro é praticamente não participar da espécie, não participar do mundo das vísceras , dos instintos que como uma agulha vão puxando a linha dos sonhos para fixá-la como enredo de alguma pretensão, de alguma crosta protetora.  

05 julho 2010

UM POEMA

este poema é um paciente
deitado no leito branco da folha
a espera de alguém 
que lhe tire o pulso e a temperatura
que lhe diga palavras de esperança
e lhe ensine o lado bom de viver
este poema é só isso
não dá lições a jovens revolucionários
nem distribui chocolates em forma de coração
a mocinhas românticas
não prediz o amanhã
nem espalha as cinzas do agora
este poema não espera a compreensão de ninguém
nem o olhar paternal dos dos médicos e enfermeiros
apenas jaz recostado no branco do leito
sob sua rala colcha de metalinguagem.