29 julho 2010

NO RASTRO DA MPB

Hoje vou dar uma palavrinha sobre MPB. Desde muito tempo, seja  no meio universitário ou nos meios mais descolados, não se questiona muito qual é o melhor tipo de música produzida no Brasil. Basta olhar perfis de orkut, facebook, blogs etc para matar a charada. Onde está escrito estilo musical preferido, o povo taca logo MPB sem titubear.  Mesmo preferindo ouvir Arroxa, Calipso ou Sertanejo, registra lá MPB. É uma questão de parecer inteligente, marca grudada na MPB pelos esquerdistas. De fato, o estilo MPB tem uma tradição de qualidade constituída na origem cuja característica principal é unir bons arranjos melódicos a letras em que predominam certas preocupações poéticas. Hoje isso não tem muito cabimento. Se pegarmos Chico Buarque e Caetano Veloso, dois estilos distintos, porém consolidados desse tipo de música, confirmamos essa preocupação com  harmonia e arranjo e com a elaboração poética das letras, coisa que muitas vertentes musicais discriminadas por gente estreita  fazem atualmente com igual competência.
 MPB é uma sigla estranha. O conteúdo que viceja por trás dela não é tão popular quanto o nome indica, nem tão brasileira quanto se autodenominou no início, seguindo o nacionalismo barato da esquerda da época. O que chamamos de MPB nasceu propriamente em 1965, a partir das fusões melódicas da Bossa Nova, criada um pouco antes a partir das experiências com o Jazz, o Samba e o Bolero. A batida de João Gilberto e seu modo sóbrio e sereno de realização musical ganhou imitadores apaixonados no meio artístico e musical. Mais adiante, como esse meio era dominado por correntes comunistas, passou-se  a unir a boas invenções melódicas causas sociais, temas ideológicos e experimentações poéticas, como orientação imperativa. O ponto de equilíbrio dessas experiências foi atingido a partir de 1965 com o primeiro Festival de Música Popular Brasileira. Ao longo dos festivais, pari passu com a conjuntura política brasileira, permeada por certa hegemonia cultural da esquerda, as preocupações sociais viraram quase que uma obrigação nas letras de canções. Mas a MPB nunca foi popular. Foi, isto sim, uma vertente de elite, moldada no meio universitário e no fervor de reuniões intelectuais. A música realmente popular naquele período foi a da Jovem Guarda. Música fácil, de massa e que levou multidões ao delírio. Como se pode constatar, a sigla MPB é inadequada até hoje. Música Sertaneja, Arroxa, Axé e Calipso são bem mais populares. Na verdade, na década de sessenta mesmo havia gente que chamava MPB, de forma bem mais pertinente, de Música Moderna Brasileira, ou seja, MMB, mas MMB não tem o mesmo apelo retórico e político que MPB.
Depois que a MPB se livrou dos excessos ideológicos que quase a transformaram em panfleto político no fim dos anos de 1960 a vertente que explorava o viés mais poético nas letras tornou-se predominante e passamos a apreciar criações mais interessantes de se ouvir e mais duradouras. A vertente mais panfletária de protesto migrou para o Rock dos anos de 1980. É bem nessa época que vemos surgir bandas como Titãs, Barão Vermelho, Legião Urbana e Ultraje a Rigor, entre outras, que bancam em seus albuns entre algumas belas letras, panfletos vagabundos contra a polícia, a educação, a mídia, a religião, enfim, toda sorte de temas cristalizados pela esquerda como obrigação da música não alienada.
Hoje, usando uma expressão de Torquato Neto, a gente sabe que predomina a geleia geral na música brasileira. É uma bobagem ficar se prendendo demais a rótulos e a cerceamentos ideológicos toscos. Qualidade é uma coisa muito relativa. O que é muito popular nem sempre é ruim e nem sempre é coisa boa. Isso serve também para a impopular música popular brasileira. Há muita baboseira rodando e sendo louvada por aí nos circuitos  intimistas como se fosse a melhor música brasileira, a última bolacha do saco. Nada a favor e nada contra! Cabe ao leitor fazer suas escolhas e pronto! Há braços!

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