06 julho 2010

POR TRÁS DA PUREZA, O DURO MUNDO REAL

Eu não acredito na pureza humana. Acredito na pureza de qualquer animal que não urdiu um novelo de superioridade e bondade em torno de suas fraquezas, mas esse não é o nosso caso. Vivemos o tempo todo tentando evitar o que somos. Pulamos de barco em barco, de naufrágio a naufrágio, abraçados cada vez e sempre a sonhos e nunca nos afastamos desse porto solar atormentado pelas sombras inconvenientes da carne e do sangue. A pureza é uma construção relativamente recente e desde a sua invenção tratamos de afastar dela tudo que é humano, demasiadamente humano. Ser puro é praticamente não participar da espécie, não participar do mundo das vísceras , dos instintos que como uma agulha vão puxando a linha dos sonhos para fixá-la como enredo de alguma pretensão, de alguma crosta protetora.  

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