12 julho 2010

SOBRE IDIOTAS E IDIOTICES


Hoje me lembrei de quando laçaram aquele filme Lamarca. Lamarca era um completo idiota. Quem morre naquelas circunstâncias e fazendo o que ele se propunha a fazer não bate bem da cabeça. Embora a biografia do Capitão Lamarca fosse de uma pobreza gritante,  ainda tentaram transformar o sujeito em heroi. Por falar nisso,  nos anos oitenta havia um vizinho no Pé-de-galinha, filho de Bamba, que guardava um livro sobre Lamarca escrito por um vigaristinha desses que engrossam as fileiras do PT, um tal de Emiliano José,  um sujeito meio troncho da cabeça, meio esquizofrênico que só abre a boca para falar da ditadura militar e defender a ditadura cubana e a venezuelana como ninguém. Pois bem, esse  vizinho tratava o livro de Emiliano como se fosse uma coisa muito importante,  uma coisa muito valiosa e sagrada e proibida e secreta. Deu um trabalhão para ele me emprestar a porcaria do livro.  Na época eu, cheio de inocência e de estupidez ideológica me indignei com os maus tratos que sofreram aqueles camponeses de Buriti Cristalino. Se soubesse que pelo menos setenta por cento do que estava escrito ali era vigarice pura bordada pela mão panfletária do tal Emiliano José  certamente teria dado mais crédito às desconfianças que pipocavam aqui e ali durante aquela leitura adolescente.  Fui enganado tanto quanto Ronaldo de Bamba que me emprestou aquele amontoado de cretinices em formato de livro.
Quando saiu o filme, e era disso que pretendia falar em primeiro plano, fui ver uma apresentação na Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Goiás (UFG), onde estudava. Um professor  daqueles de barbichinha de Lênin  e sandálias de couro iria comentar  a boniteza de filme que os Barreto fizeram  sobre o comunista Lamarca. Para minha surpresa o cara tacou o porrete no filme, mas não porque o filme era de uma idiotice deplorável e sim porque, acreditem, havia no filme, segundo  o barbichinha de Lênin, um ranço pequeno- burguês. Aí  o Lênin de precata nordestina da UFG apontou  a cena do filme em que a companheira de Lamarca foi abatida dentro de um apartamento em Salvador. E soltou farpas revolucionárias defendendo que o filme ficava muito preso à intimidade, ao ambiente fechado de apartamentos etc , coisas tipicamente burguesas, segundo aquele sábio militante. Ou seja , na visão crítica do imitador de Lênin a porcaria do filme deveria ser mais idiota ainda.
Recordo que na época, mesmo ainda com cara de idiota, iludido com a conversa fiada dessa gente, já não era mais inocente e fiquei a refletir sobre  o quanto é boçal taxar a individualidade e  a intimidade como coisas “pequeno-burguesas”  como se isso fosse um crime, a violação de um tabu ou algo que o valha. O Lênin da UFG não disse nada da cena patética daquele tal Zequinha fictício arrastando feito um jumento  um Paulo Betti nas costas,  com aspecto andrajoso e uma expressão de imbecil indescritível e nem daquela cena final de Lamarca estendido com os braços abertos como se fosse Cristo crucificado.  Disso ele não falou . Para o barbicha, o ridículo Capitão Lamarca era mesmo um heroi, um salvador crucificado pelo sistema e aquela comparação caía bem como estratégia de enganação das massas. Todo mundo já sabe como esse povo gosta de inventar mitos e causas.
Mas para quê relembrar experiências tão toscas? A resposta é simples, para os desavisados perceberem com que tipo de matéria tem sido feita ao longo dos anos a cabeça dos universitários. Para dizer também  que a maioria deles sai da faculdade diretamente para a sala de aula levando consigo um rol de bobagens e condicionamentos ideológicos propícios a reproduzir a mesma besteirada de que foram vítima. Poucos se dão conta de o quanto foram enganados e de o quanto reproduzem a enganação. Há braços!

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