28 janeiro 2009

POR UM MUNDO MENOS GANANCIOSO

A crise mundial pela qual estamos passando pode trazer efeitos mais que inesperados. Após anos de certezas e progressos moldados num estilo de vida e de sociedade baseados no consumo e na acumulação indiscriminada de riquezas, surgem questionamentos por todos os lados: até quando o mundo vai suportar esse modelo econômico volátil, baseado na especulação financeira e em fórmulas artificiais inventadas por banqueiros ávidos por montantes fabulosos?

A ansiedade perdulária e o oportunismo que fizeram crescer a bolha imobiliária americana, responsável pela crise em que as economias do mundo estão mergulhadas, derreteram-se diante da falência de dezenas de grandes empresas e bancos pelo mundo afora. O certo é que o modelo de exagero em que vivíamos dificilmente retomará espaço. Isso significa que inevitavelmente estamos abrindo uma nova era que, a depender da pressão do povo em escala planetária, possivelmente poderá ser mais justa e igualitária.

Em se concretizando essa tendência, a principal alternativa será o caminhar da maioria e não o de um só, buscando o benefício comum. Nesse ínterim, naturalmente vamos estreitar as relações socioeconômicas e rever algumas ordens estabelecidas por aqueles que não se adéquam ao espírito coletivo e que sempre buscaram explorar.

O importante no momento é a possível quebra do ideal de aceitar a dificuldade e a submissão. Buscar os direitos estabelecidos, cobrar daqueles que fazem algo errado e fazer melhores escolhas perante as situações por vir,como por exemplo uma eleição, podem representar uma mudança muito importante nesse quadro .

Para seguir na história não basta o pensamento de mudança estar semeado em cada um. É preciso existir também a vontade de ser a mudança e de tomar atitudes condizentes com o objetivo de um mundo melhor e mais justo.




(Pedro Moreno, para o boca do inferno)

21 janeiro 2009

BOCA DO INFERNO 40, jan/fev 2009

CONTRA AS ABOBRINHAS DOUTRINÁRIAS
Entre os arroubos de mediocridade e de dissimulação de ignorância que a academia produz para proteger interesses ideológicos estão a distorção das ideias e do sentido da obra de certos autores que, se lidos, impediriam a eficácia da doutrinação nos feudos universitários. Creio que, entre outros, um dos autores mais perigosos e, portanto, mais distorcidos é Friedrich Nietzsche. Dentre as abobrinhas ideológicas que já ouvi de bocas e li em textos de universitários está a de que Nietzsche não é filósofo, porque não tem um pensamento sistematizado.
Nesse caso, a ignorância é dupla: primeiro os imbecis que afirmam isso consideram Sócrates e uma porrada de outros pensadores que nem textos escreveram como filósofos, mas Nietzsche não pode ser. Depois dão uma prova cabal de que não leram sequer uma página da obra nietzschiana, pois se o tivessem feito saberiam que a filosofia de Nietzsche é uma crítica aos valores ocidentais e sobretudo ao modo torto de pensar e de fazer ciência no ocidente. Ele próprio em um prefácio crítico ao seu primeiro livro " A origem da Tragédia", afirma em tom de autocrítica que não deveria ter escrito daquele modo tal livro já que o tal modo de proceder era objeto de crítica no livro. Diz assim esse pensador genial:"Quanto lamento agora que não tivesse então a coragem (ou a modéstia) de permitir-me, em todos os sentidos, também uma linguagem própria para intuições e atrevimentos tão próprios"...[1]
Outra forma vil de afugentar as ovelhas universitárias do pensamento livre de Nietzsche foi tachá-lo de antisemita, de nazista. Primeiro, não há uma linha de antisemitismo em Nietzsche. Quem leu a obra, que notadamente é do séc desenove, antes do nazismo portanto, sabe disso. Uma coisa é Friedrich Nietzsche, outra coisa foi o que a irmã dele, Elizabeth Forster, fez com a obra do filósofo, muito depois da morte desse autor. Simpatizante do nazismo, ou querendo fazer média com o poder, Elizabeth e o marido usaram e deixaram que usassem o pensamento do irmão filósofo de forma baixa e desrespeitosa. Distorceram cinicamente tudo.

Quanto a isso já até ouvi debilóides universitários afirmando que a teoria do super-homem de Nietzsche confirma seu gosto pelo purismo do tipo ariano de Hitler. Uma vez, de saco cheio, eu perguntei a um imbecil desses se ele sabia o que significava "übermensch" em português. Não soube responder. Tive que dizer que era o termo alemão que Nietzsche usou em sua obra e que a tradução mais honesta para o português seria "além homem", mas que esse termo foi traduzido maldosamente como super-homem o que torna incompreensíveis as relações que fazem entre o pensamento do autor de Genealogia da Moral e esse delírio de homem puro e máximo.
Mas parece que a distorção vingou, até porque não há hábito de leitura no meio universitário. Quando muito, a maioria dos nossos gênios do terceiro grau leem fragmentos de interpretações, boa parte delas codimentadas com as distorções comuns produzidas pela patifaria intelectual que tem caracterizado a educação de nível superior no Brasil.


(bichu duzimbu, feliz por ter voltado)
[1] NIETZSCHE, F. A origem da tragédia ou Helenismo e Pessimismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1992.

FESTA DAS ARÁBIAS

Dizem que há uma festa das arábias em Uibaí.
Já tem três camelos estacionanos na prefeitura.
As mil e uma noites no país das maravalhas começam
em grande estilo. No melhor do nepotismo.
J.M. da Silva

11 janeiro 2009

TUDO FLUI

"O cobarde, par contre, procura deter o fluxo da vida". ( Henry Miller)*
Eu amo tudo que flui
Do sangue quente da veia
Ao jato infecto de pus.
Da lágrima abundante nos olhos
Ao choro que a produz
Do texto que sai da língua
A tudo que ele traduz

Eu amo tudo que flui
o jorro menstrual da fêmea
o canal que o conduz
O elétron que salta do átomo
Da madeira dura da cruz.
A seiva mineral da pedra
Que escorre pro solo e rega
A vida com invisível luz

Eu amo essa transição eterna
A saliva, o gozo, o esperma
O vapor do hálito quente
Que excita, atiça e intriga
O beijo molhado de noite
O suor sobre a barriga.
Eu amo essa infinita lida.
(bichu duzimbu, de volta do exílio)
* O mundo do sexo

06 janeiro 2009

FESTA DO CABIDE

Dizem que a prefeitura tá promovendo uma movimentada festa do cabide na canabrava. A entrada é restrita. Logo na porta, o convidado precisa tirar a máscara, depois é levado a pendurar o corpo mal passado em um emprego e curtir a vontade. Cabide de emprego... A fila é longa... descamba Rua Grande abaixo, faz uma curva na Quixabeira, atravessa o Caldeirão e segue Canabrava a dentro. Haja leite nas tetas da vaca azul. (JM da Silva)