30 outubro 2008

SANTO NO ANDOR

Depois da vitória sobre o grupo do prefeito, a frente de libertação, num ato de agradecimento resolveu desfilar pelas ruas de Uibaí com o pai da criança, o companheiro e atual vereador Dorival, nos braços. Tal ato deve ter deixado o prefeito eleito com o monossílabo cortando agulha. O cito vereador é o pai das crianças eleitas, o vice prefeito Rodrigo e a verreadora Vivi e também, o maior vencedor dessas eleições. Viva São Dorim... o nosso companheirim... Haja povo! (Vilmali Rocha, para o Boca do Inferno)

QUANDO A INTENÇÃO É SÓ DOUTRINAR


Na atividade de analista de discurso, aprende-se a lidar tanto com o silenciado quanto com o dito. Ocorre que toda materialização de linguagem se dá por meio de escolhas, conscientes ou não, e essas escolhas silenciam outras possibilidades do dizer que insistem em rondá-lo (nem sempre em boa hora) de tal forma que o sentido do dito tem sua constituição fundada nessa relação entre o que se disse e o que se calou. Todo esse jogo faz muitos sentidos circularem.
Outro dia o professor de história Flávio Dantas alertava Jorge Araújo no uibaionline, de forma inadequada, sobre o uso do termo “denegrir”. Não que o uso do termo “denegrir” trazido por Jorge estivesse referencialmente sendo utilizado no sentido racista com o qual foi muitas vezes empregado no séc. XIX. O alerta de Flávio é que forçava essa interferência, forçava essa relação com a memória.

A palavra denegrir, originada da raiz latina niger que significa “negro”, foi difundida dentro da mentalidade escravocrata que, para justificar a escravidão, classificava os negros escravizados como animais, sujos e degenerados. Assim, denegrir, que etimologicamente significa sujar, manchar, até ficar com cor escura, negra, sem qualquer tintura racial, naquela época (institucionalmente escravista), ganhou uma oportunista conotação étnica e passou a ter o significado de tratar alguém como se fosse negro, ou seja, “sujo, degenerado, animalizado”. Isso quer dizer que a palavra tem esse lastro na memória, mas quer dizer também que a memória traz consigo as condições de produção do sentido da palavra para a época e que na atualidade essa memória não cabe em qualquer contexto. Há inclusive quem conteste a conotação racista do lexema “denegrir”. O escritor Eduardo Martins, por exemplo, ao defender que nem todas as expressões se referem ao negro como etnia, diz que a palavra denegrir surgiu no século XV, portanto, antes da escravidão no Brasil. A informação é correta, mas não procede como argumento.

Em Semântica, disciplina ainda ligada à visão imanentista da linguagem, o que aconteceu com tal vocábulo seria chamado de mutação semântica diacrônica, isto é, quando a palavra muda de sentido com o passar do tempo, chegando a um novo momento histórico com uso e sentido distintos do original. Foi o que aconteceu com o termo “amante” que até início do século XX referia-se positivamente a alguém que ama e hoje refere-se a alguém que participa de uma relação adúltera.

Assim como o uso do termo "amante", atualmente, não permite que se o entenda como "aquele que ama", sob pena de se criar sérias indisposições sociais, o mesmo pode-se pensar sobre "denegrir" quando rotulado como termo racista. Por essas e outras razões deve-se fazer uso cuidadoso das palavras, mas não necessariamente condená-las com base em seu passado infeliz, ainda que verdadeiro. Do contrário, teríamos que abandonar grande parte do vocabulário em uso na atualidade. Vejamos, a título de exemplo, o étimo de algumas palavras bem populares: trabalho, do Latim, tri paliu, ou seja, três paus, castigo imposto pelas tropas romanas aos exércitos derrotados, que consistia em fazer os membros desses exércitos rastejarem sob um estrado feito com sequências de três lanças romanas. Dócil, doçura, em Latim , docere, aquele que se deixa submeter, qualidade de quem é submisso. Cretino, proveniente de um dialeto franco-provençal dos Alpes Suícos , cretin, referente a cristão, pessoa aparvalhada, de raciocínio lento, tola. O sentido se deve ao fato de os vários cristãos fugidos de regiões com baixa taxa de iodo no sal terem desenvolvido uma espécie de tireoidismo que os deixava com aparência de tolos, tontos... Agora, raciocinem comigo: faz sentido apelar para a origem dessas palavras como forma de repreender seu uso, taxando-o de preconceituoso etc., etc., etc.?

Se em termos de linguagem não faz sentido esse tipo de perseguição a palavras, seria essa uma prática fundamentalmente ideológica? Seria uma muleta de discussão com a finalidade de exercer controle sobre os outros? Seria uma forma de criar argumentos para rotular adversários? Se for é ridículo, é coisa realmente de quem não tem argumento.

A esse respeito, lembro-me de que na ocasião em que o livro “Pelas veias da esperança” foi lançado em Uibaí, o professor Juscelito Mendes chegou a dizer que eu, como um dos revisores, deveria ter corrigido a expressão “anos negros da ditadura”, porque o vocábulo, “negros”, fazia referência pejorativa à cor. Tem dissimulação de ignorância mais retardada do que essa? Todo mundo sabe que a expressão, “negro”, no sentido de cor, tem histórico negativo milenar. Está lá nos bestiários medievais, lá nos textos pré-socráticos, lá nos textos de origem persa, egípcios, chineses e indianos. Assim, o termo está apropriado ao contexto em que foi posto. Não fere a ninguém além dos ditadores. Estou vendo a hora de esse pessoal começar a discriminar pessoas que botam luto pela morte de algum ente querido por estarem associando a cor preta à morte, à tristeza e à dor. Ainda bem que a língua não se submete facilmente a esses delírios de milícia.

Simbolicamente, vê-se que a expressão, “negro”, foi utilizada em “anos negros da ditadura” com o mesmo sentido que a cor aparece no "luto" acima referido, ou seja, com sentido de tristeza, dor e perda. Mais que isso, como ausência de luz, contrário ao dia, levando-se em conta o dia como sinônimo de vida, uma vez que o sol é responsável pela progressão e sustentação do ciclo vital. Tal uso insinua que a vida foi podada no período militar, que aquele período foi de tristes perdas. A simbologia, embora tendenciosa, é coerente. Seu uso se deveu à necessidade de marcar um posicionamento ideológico com relação às práticas do regime militar. E esse uso é visceralmente humano. Agora, despropositado é querer fazer hegemonia discursiva, “patrulha ideológica” com esse tipo de argumento. Banalizar o sentido do que se diz com abobrinhas ideológicas é querer instituir a incapacidade de pensar. Se a intenção for mais discutir do que doutrinar, é melhor procurar entender a expressão dentro do contexto em que foi usada.

O lamentável de tudo isso é ver que há pessoas que caem irrefletidamente nessas armadilhas retórico-doutrinárias. Foi triste ver o pobre Jorge desamparado, se sentindo (ironicamente) a ovelha negra do rebanho, achando que cometeu um pecado terrível, pedindo desculpas e lamentando o seu infortúnio.

Há braços! alan

24 outubro 2008

VAMBORA!


VAMBORA


Aos meus amigos A. Machado, L.D. Ungarelli e W. Hungria
( entre poucos e fiéis outros...)




Vou me embora pra Pasárgada

Bandeira mostou o caminho

e o Quintana me falou

que posso ser passarinho.

Arrumar minha boroca

e botar o pé na estrada

pitu, tabaco e paçoca

não preciso de mais nada.

Às vezes tão quixotesco

às vezes tão delirante

de traço tão pitoresco

e almejando ser Cervantes.

Se não der, vou pra Atenas

aqui eu não fico mais

vou fugir da minha pena

gritei : Solte Barrabás !!!

Vou me embora pra Pasárgada

quem quiser, venha comigo

lá conheço a dona Juana

que me prometeu abrigo.

Vou tomar minhas branquinhas

com farofa de torresmo

cá tenho de andar na linha

lá eu posso ser eu mesmo.

Vou me embora, vou me embora

aqui eu não fico mais

levarei a doce aurora

pras noites de alguns ais.

Vou me embora, e já me arranco

levarei Drummond comigo

coitado, tão esquecido

sentado naquele banco.

Creio já chegada a hora

de buscar o meu quinhão

já está ficando tarde

me diz o meu coração.

E Drummond me diz surrindo:

E a minha Itabira !?

Se eu não levá-la comigo

minh"alma queda no limbo.

Eu direi: calma colega

Seu Manuel já está lá

só levou um burro brabo

e agora nem quer voltar...

Vou me embora, companheiros

a todos, o meu abraço

me sentindo o derradeiro

mas quero sair do laço...





(Ozênio Dias, num dia chuvoso de sembro de 2008)

23 outubro 2008

O ÓDIO É BEM MAIOR!

Para Suelena e sua turma ortopterofóbica.


Ontem (21-10) choveu pra Noé nenhum botar defeito. Depois do forte temporal que desabou sobre a cidade, não é que uma velha barata foi se refugiar na área de serviço lá de casa. Soube dessa visita nenhum pouco ilustre mediante os dois gritos agudos de minha filha. Dizem que o medo feminino de baratas é ancestral. Corri ao encontro dos gritos e me deparei com uma cena comezinha. A menina em cima da cadeira e a um metro e meio, amarrotado e arquejante, o nefasto ortóptero.

Baratas são bichos repulsivos, indesejados, tradução da mais unânime repugnância. Entretanto, confesso que por um segundo não consegui vislumbrar mais do que um inseto fragilizado, desesperado, cheio de medo e susto. A pobre barata só queria se recuperar do terrível princípio de afogamento que possivelmente sofrera na tubulação de água fluvial. Abandonou o desconforto da boca de lobo inundada, antes seu aprazível lar, em busca da sobrevivência. Esse átimo de compaixão me ocorreu logicamente antes de eu desferir uma vassourada certeira no vil inseto. O golpe o deixou em tremeliques, grudado no chapisco do muro. Afinal, o amor incondicional à vida deve ser instintivo, mas o ódio às baratas é bem maior. (alan oliveira machado)

22 outubro 2008

RECEITA

RECEITA
Amole a faca do sonho
corte a vida em fatias
evite muita sangria
pra o corpo não padecer
coloque as postas de molho
no sal justo da razão
não se esqueça da emoção,
junte, ao molho, prazer.

depois de temperada a vida
populacho vira povo
o que é ruim não vem denovo
na mudança de estação
movimento solidário
de crescer além do horário
do relógio, da TV.

a vida ferve ativa
nutrida, codimentada
em postas bem preparadas
para o tempo absorver.

(Cosme Bafão, para o Boca do Inferno)

17 outubro 2008

BOLHAS, PULHAS E PÃO


Uns sofrem com a bolha financeira

pulhas da finança estrangeira

outros com bolhas grosseiras

sofrem em busca de pão

bolhas estouradas na carne

que geme escravizada,

quem dera bolhas de sonho, como bolas de sabão

quando o cabo da enxada certeira

infla bolhas roceiras no solo vivo da mão

carne vermelha arrancada

na madeira bruta da enxada

ou na arranca do feijão

o sal do rosto escorrendo

molhando a carne ardendo

veneno da exploraçao.

Pra uns a bolha é ganância

consumo desembestado

pra outros a bolha é um estado

menos homem, mais arado

de bicho coisificado

adubo do solo ralo, dejeto de aluvião.


(Cosme Bafão, para o Boca do Inferno)

11 outubro 2008

ELEIÇÕES DE UIBAÍ, ENTRE 2004 E 2008

A famosa batalha de Pirro
UMA VITÓRIA DE PIRRO?

Pedro Rocha está com a barriga esfolada, ganhou a eleição com minguados 14 votos de frente... Passou arrastando. Quase perdeu. Os 14 votos que lhe garantiram a vitória têm como enfeite o couro da barriga do candidato e o couro moral de muita gente que se sentiu na obrigação de apoiá-lo, embora repudiasse as coligações amarradas pelo grupo defensor da candidatura. É possível inclusive que o referido candidato tenha perdido a liderança já tradicional na sede. A verdade é que de 2000 para 2004 sua frente na sede caiu visivelmente (alguém que tenha os dados nos ajude). Essa vitória está com cara de vitória de Pirro! Sabem aquela guerra desastrada do rei Pirro? Confiram depois!

O certo é que os dados para vereador, cujas variáveis são muitas, vão dando elementos para ver a oscilação avaliativa do eleitor. Vejamos alguns exemplos:

Vilmar, de 544 votos em 2004, caiu para 254 votos. Desempenho medíocre, muito abaixo da votação que recebeu em 2004, quando foi o segundo mais votado. Muito menos que a metade dos votos. O péssimo desempenho de Vilmar tem algumas variáveis, uma delas é a sua inexpressiva atuação parlamentar. Outra deve ter sido achar que poderia ser reeleito sem muito empenho na campanha, como fez Tarcísio em 2004. Comenta-se também que ele teria tentado passar votos para Dóris. Politicamente é um fracasso.

Já Dóris, de ínfimos 194 votos em 2004, saltou para 397 votos. Evoluiu muito com relação a 2004, mais que o dobro. Visivelmente, o candidato que mais se beneficiou da coligação com o grupo de Dorim (fora o próprio Dorim) foi Dorisdei. Nenhum outro candidato da coligação conseguiu nem mesmo dobrar os votos de 2004.

Armênia, dos 307 votos em 2004 que quase a deixaram fora da câmara, saltou para 579 votos. Evoluiu surpreendentemente, quase dobrou a votação. Esse foi um caso parecido com o de Dorisdei. Do lado de Raul, Armênia se beneficiou da ausência de Dorival e Mãezinha que tiveram respectivamente 728 e 404 votos em 2004 e arrematou a maior votação individual de 2008 para vereador.

Tarcisio, de 411 votos recebidos em 2004, conseguidos praticamente sem campanha, evoluiu bem para 498, mas coloca em dúvida o prestígio eleitoral de alguns de seus apoiadores que sustentam a tese de que ele deve ser vereador eterno em Uibaí.
Davi do Poço, a exemplo de outros, teve fraco desempenho. Dos 379 votos obtidos em 2004 subiu para 412 nessas eleições. Dividiu os votos do PDT com um tal Frank que não foi eleito, embora tenha recebido uma votação razoável, 303 votos.
Djalma, dos sofridos 91 votos de 2004, evoluiu para 141, poderia ter obtido vantagens da coligação, mas, ao que parece, é uma presença negra incômoda que gravita em torno do miolo do poder da frente. Há comparsas de coligação que não perdem chance de rechaçá-lo, sobretudo os do PT.

Dorival, o candidato mais votado em 2004, com inacreditáveis 728 votos, abriu mão da disputa para beneficiar notadamente Dorisdei. Fora a própria Dorisdei, cuja personalidade desperta pouca afeição popular, foi Dorim quem a impossibilitou de se eleger em 2004. Mas, de reconhecida habilidade e cara de pau, Dorim faturou o cargo de vice-prefeito para o filho e emplacou de lambuja uma herdeira política (Vivi) na câmara de vereadores, com 368 votos. Dorim e Dóris são os grandes vencedores da coligação.

Para fechar essa análise parcial, resta falar do PC do B, que evadiu da frente em troca do cargo politicamente simbólico de Assessor de Comunicação da prefeitura de Raulzinho, ocupado por Gilson Monteiro. O PCdoB continua insignificante, seu capital eleitoral se resume aos ridículos 104 votos obtidos por Marcos Monteiro, irmão de Gilson. Se já eram zero à esquerda (matematicamente falando, porque politicamente nunca foram de esquerda), agora são mais do que nunca.

Por fim, há uma “surpresa” eleitoral: o tal Marcão, do grupo de Raul, que se elegeu com 563 votos. É bom frisar que apenas ele e Armênia viraram a casa dos 500 votos nessa eleição. Embora novato na disputa, Marcão foi o segundo mais votado. Sua expressiva votação e a de Armênia servem para questionar quem saiu concretamente mais forte da eleição. Aliás, as legendas campeãs de votos para vereador foram o PTB de Armênia, com 2616 votos; o PSDB do tal Marcão em segundo lugar com 1520 votos, ambos da base de Raul. O PT de Dóris e cia, com Wagner, helicóptero e tudo, amargou um terceiro lugar, com 1455 votos. Talvez a vitória de Pedrinho e sua frente saco-de-gatos esteja mais para uma vitória de Pirro. Há braços!

05 outubro 2008

CORDEL DO PUXA-PUXA

Puxa-saco é bicho escroto
Não perde ocasião
Vai do céu ao esgoto
Para agradar o patrão
Se fica em riba do muro
Não é por indecisão
É pra escolher a fachada
Do patrão que mais agrada
Pra fazer encenação
Babar ovo, lamber bota
Bajular com devoção.
(J.M. da Silva)