26 julho 2010

PEDINTE TAMBÉM PAGA!

Neste período de inverno em Ilhéus as chuvas deixam o mar (permanentemente azul no verão) turvo e agitado. Essa mudança atrai turistas alternativos. Aos poucos se abancam nas praias com barracas e pranchas grupos de surfistas de origens variadas. O comércio turístico se recolhe no úmido dos estabelecimentos. Mas há uma birosquinha de esquina que não se  importa muito com a variação do clima e das estações do ano. Trata-se de um bar sem nome em uma esquina da rua Jacarandá em frente ao supermercado Meira, ali na saída para Olivença. O estabelecimento pode não ter nome, mas o proprietário tem nome de locutor de rádio: Mário Galvão. Seu Mário, um simpático senhor grisalho de camisa florida a la Jorge Amado, atende com atenção e cordialidade o meu pedido de informação, um pouco após eu ter comprado o cartão para recarregar o celular. Quero saber a respeito de um bom restaurante nas imediações. Ele pega no meu braço e indica uma esquina na rua adiante onde há, segundo ele, uma excelente churrascaria.  
De acordo com seu Mário, sua esquina é alvo dos folgados e desocupados de inverno a verão. Talvez por ser em uma área de concentração de comércio relativamente próxima à praia e diante de um dos grandes supermercados dessa terra grapiúna. Ali é visível o vaivém de gente pedindo copo d água, pleiteando fósforo para acender cigarro, solicitando informação, caneta para anotar endereço... Tanto tipo de pedido, tanto pidão e pedinte que não sobra tempo nem para varrer a varanda do boteco, diz o comerciante apontando para o chão malhado de areia, rastros e folhas.
 A paciência de seu Mário chegou ao limite quando  começou a aparecer frequentadores apenas para contar os próprios problemas e infortúnios domésticos. Mas ele resolveu por fim ao assédio inconveniente dos pedintes depois que fez um cálculo meticuloso dos gastos que angaria emprestando fósforos, servindo copos dágua, arranjando um inocente copo descartável aqui, um guardanapo solitário acolá, cedendo seu tempo para informações e gentilezas que poderiam estar a serviço apenas das pessoas que consomem no estabelecimento. Eram uns bons trocados perdidos no fim das contas. Então Seu Mário Galvão resolveu espantar os pidões afixando o curioso e divertido cartaz que segue ao lado na frente da birosca. A coisa pegou e virou folclórica, mas seu Mário, bem humorado, acaba se divertindo com o sarro dos pidões habituais que perderam a folga. Confesso que depois de ler o cartaz fiquei  meio sem graça e perguntei para o botequeiro com nome de locutor de rádio se ele iria cobrar pelas informações que me prestou, ao que seu Mário bateu em meu ombro sorrindo e dizendo: você já consumiu! Para consumidor é de graça! Há braços!

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