13 novembro 2010

AS PATRULHAS SÓ ENGANAM QUEM NÃO LEU

Hoje, depois de muitos anos, aproveitei um tempinho à tarde e reli Caçadas de Pedrinho, de Monteiro Lobato. Foi bacana reencontrar o texto de Lobato com o mesmo sabor de infância de quando o li aos treze anos, numa leva de livros que minhas irmãs trouxeram para casa nas férias de final de ano. Fui reler  Caçadas de Pedrinho para tirar a limpo a conversa fiada de um desses militantes negros que tentou vender a história de que o livro era racista e coisa e tal. Se a gente fosse  dar crédito ao alarde que fizeram  era o caso de se imaginar que o livro é um manual de racismo. A lembrança que tinha da leitura dessa obra de Lobato não correspondia ao exagero do militante racialista, portando achei melhor, depois de ter escrito o texto anterior a este, voltar à história do inventor da boneca mais sabida da história da Literatura Infantil.
Na foto: macaca de carvão ou mono carvoeiro
Só há duas míseras expressões dirigidas à personagem Tia Nastácia, em todo o livro, que podemos constatar como sendo de mau gosto pelo tom racial. Nesta fala de Emília: Não vai escapar ninguém - nem Tia Nastácia, que tem carne preta. E mais à frente, quando as onças atacaram o sítio de Dona Benta e Tia Nastácia subiu apavorada em um mastro, aparece a segunda expressão infeliz, descrevendo a ação da referida personagem: trepou que nem uma macaca de carvão pelo mastro...  Há quem conteste o conteúdo racial dessa segunda expressão afirmando que Lobato se referia ao modo hábil como Nastácia, movida pelo medo, escalou o mastro. Macaca de carvão não se refere à cor da personagem, mas a uma espécie ágil de primata conhecida como mono carvoeiro ou macaco de carvão. Tal espécie inclusive tem pelo dourado, conforme a foto. 
Nas quarenta e três páginas da edição de Caçadas de Pedrinho que tenho aqui em casa, as duas expressões a que me referi são as únicas com tintura racial preconceituosa. Mas o livro é tão interessante e a leitura flui com tanta naturalidade que as expressões perdem-se na névoa da insignificância em meio a uma reflexão atual sobre a relação do homem com a natureza que em certos momentos nem parece  feita no longínquo ano 1933: Os homens andam a destruir todas as matas, a queimá-las, reduzi-las a pastagens para bois e vacas
Quanto à onça que a turma do sítio matou, motivo pelo qual os politicamente corretos condenam o livro por dar mau exemplo, a resposta sobre tal ato Monteiro Lobato põe na boca dos animais da mata: Ora, isto é crime que pede a mais completa vingança. Guerra, pois! Guerra de morte a essa ninhada de malfeitores. Essa capacidade de interpretar a realidade de modo crítico, mas sutil nas histórias para criança que o criador do Sítio do Picapau Amarelo dilui em sua obra parece não estar ao alcance das patrulhas ideológicas, quase sempre patinando no grosso da superfície. O conteúdo de Caçadas de Pedrinho não é racista e qualquer ser inteligente pode constatar isso a menos que esteja entorpecido por uma cegueira racialista muito distante do bom senso. Há braços!

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