22 novembro 2010

O PAPA E A CAMISINHA


Eu sou favorável a todas as formas de amar. O que importa é que as pessoas se realizem e sejam felizes. Até porque quem aquenta o mau humor de almas travadas sexualmente, frustradas e mal amadas? Tenham dó, a gente precisa da serenidade do  amor, cada vez mais. Muito embora me ponha ao lado de qualquer forma de amar, não consigo conceber o amor sem a conjunção carnal. O sexo é um ingrediente indispensável ao fortalecimento dos laços amorosos. Nessa seara, sexo se faz por amor, por prazer, por tesão, por qualquer impulso, menos por imposição ou por sujeição. Bom, esse é meu ponto de vista e ele não diminui o meu respeito por práticas de que discordo. Dito isso, passo a refletir sobre a opinião manifestada recentemente pelo Papa Bento XVI. 
O chefe maior da Igreja Católica disse que é aceitável o uso da camisinha em situações específicas. Essa opinião provocou um alvoroço na igreja. Por que motivo? É simples: o pontífice é o guardião das escrituras sagradas, é quem representa a preservação dos dogmas do catolicismo. Um desses dogmas é o de que sexo é somente para reprodução. Crescei e multiplicai...  por isso mesmo a igreja sempre repudiou qualquer intervenção humana que desviasse essa finalidade única da relação sexual. Ao repudiar o uso de anticoncepcionais em geral e de preservativos a igreja se mantinha em sintonia com sua posição secular a respeito do sexo.
Mas, para o Vaticano, manter a coerência religiosa com respeito ao sexo no mundo em que vivemos é uma tarefa pedregosa que, em certas circunstâncias, beira a estupidez. A título de exemplo, na África, em regiões que seguem ortodoxamente as orientações de não usar a camisinha plantadas pela Igreja Católica, a Aids se espalhou como uma praga e arrastou e continua arrastando ao túmulo milhares de pessoas.  O cânone do cristianismo tem ojeriza a sexo.  Da Bíblia aos santos patrísticos o sexo é uma coisa suja, uma afronta à elevação do espírito. Nesse imbróglio entram o aborto, a homossexualidade e demais práticas associadas ao desvio da função sagrada única que a igreja destina à prática sexual.
O que fez Bento XVI? Arrebentou a coerência que vinha sendo sustentada pelo Vaticano à revelia da realidade. E o papa o fez timidamente como se fosse possível admitir pela metade o uso de preservativos sem jogar por terra o velho dogma do sexo apenas para reprodução. O fato é que tal dogma há muito tempo soa como uma coisa ridícula e despropositada. No meu ponto de vista, a Igreja Católica precisa abrir mão de certas posições que a caracterizam mais como um objeto de museu do que como uma organização humanista que vive de perto os dilemas da existência humana. HÁ BRAÇOS!

Nenhum comentário: