Ontem choveu gostoso no final da tarde. Havia muitos meses que no céu de Goiânia imperava apenas o forte e belo azul realçado pela claridade soberana do sol. O resultado disso não era só poesia, mas uma proliferação inexplicável de mosquitos, um tormentoso calor e uma secura que deixava o ar intragável. Baixa umidade: alergias respiratórias desagradáveis, mal-estar, cansaço e dores de cabeça. A chuva finalmente desceu sobre esse cenário ambíguo, dividido entre a beleza e a desolação e abriu as portas para mais um ciclo. Foi o que imaginei hoje cedo, pouco antes de sair de casa, ao me deparar com uma borboleta amarela a flutuar desordenada em frente à janela do quarto. Parecia uma flor de ipê amarelo tocada pela inconstância do vento. Ajustei o olhar e a imaginação para perceber a frágil lepdóptera partindo ao encontro do seu destino. Teria-se-ia atirado ao tempo à procura da primavera? Eis que em função da minha curiosidade afetada pelo frescor desta manhã úmida e ainda nublada tratei de registrar o que disse aos meus sentidos tal bailarina à deriva:
Borboleta solitária
bailando na janela
vai de um lado a outro
voo incerto,
aflição singela
não perdeu tempo
saiu em busca da primavera
Para mim , a primavera começou hoje , com o dia lavado pela chuva, com o sorriso terno e cheio de conforto de Sofia ainda no berço e com o adejar gauche da solitária borboleta amarela. Há braços!
2 comentários:
linda de mais
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