12 setembro 2010

O PODER DO POVO SÓ EXISTE COMO PODER DE UMA MINORIA

Outro dia, eu falava da diferença entre  massa e povo aqui. De certo modo, definia massa como um aglomerado de indivíduos com os desejos dispersos, territorializando-se  aleatoriamente e de forma fragmentada; e  povo como  massa loteada em currais ideológicos, como rebanho com os desejos investidos nos limites daquele espaço .  Em resumo, massa não tem identidade, mas, quando povo, passa a cumprir obrigações ideológicas do curral a que está circunscrita e, desse modo, ganha uma identidade. Massa não tem dono, contudo  povo tem. Sendo assim, povo é massa que recebeu o batismo político, que, portanto, está sujeito ao direcionamento, à manipulação como se fosse um capital político.
A condição de povo não elimina a natureza de massa. É como se a massa fosse alguém que entra em um uniforme especial para cumprir algumas tarefas por algum tempo em determinada empresa, mas que ao fim do  contrato voltasse a sua condição natural de massa. Quando grupos se autodenominam representantes do povo, na verdade buscam torná-lo uma propriedade política, desejam direcionar a massa para os seus interesses. É por isso que os "governos populares" que vemos por aí não têm nada de populares além do nome. Na verdade, são governos de grupos que conseguiram direcionar a massa por algum momento e em seguida ganharam autonomia institucional para em seu nome instituir programas e estabelecer prioridades cuja finalidade é propriamente a perpetuação do pequeno grupo no poder. Se necessário, inventam uma nova institucionalidade destroçando a que os levou ao poder. E como fazer para segurar a massa na condição de povo nesses governos? Óbviamente, por se tratar de tarefa difícil tais governos procuram eliminar qualquer meio que estimule o povo em crise, vomitando sua natureza de massa, a romper o jugo. Silenciam a oposição, eliminam as liberdades individuais, a liberdade de expressão e em sequência reforçam as cercas ideológicas em torno da massa para que ela se porte como rebanho, como povo. Não sendo suficiente, fazem como em Cuba: proíbem a saída do país. Imaginem vocês qual será o mal-estar da massa forçada a se recolher à condição de povo. Quantos distúrbios individuais e sociais não advém de tanta energia represada? Quais os mecanismos de resistência desenvolve ao longo do encurralamento?
O modus operandi desses grupos que chegam ao poder é sempre o mesmo. Depois de alcançada a hegemonia no encurralamento da massa, na sua conversão em povo, passam a propor plebiscitos ou coisas que o valham  com a única finalidade de fazer valer os interesses de domínio do grupo. Sendo assim, qual é o poder do povo aí? Qual a validade do tal poder popular como representação dos anseios da maioria?  Quem se arrisca a ir mais longe? Há braços!

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