Outro dia reli “O Capote”, de Nikolai Gógol. De vez em quando é bom fazer um reencontro com a visceralidade da Literatura Russa. O Capote é uma dessas novelinhas simples que se não fosse pelo fato de um casaco ser personagem mais do que o próprio personagem Akaki Akakiévich, que se não fosse pelo fato de ser criação de um dos grandes russos, passaria em branco.
Ali vê-se a que ponto um homem transforma um objeto em obsessão, a que ponto um objeto, dentro de uma degradação neurótica, transforma um homem em coisa. Como o desespero desfigura a vida e a realidade; como o apego cego ao capote faz com que o homem se pulverize ao perdê-lo. Akaki, depois de ter seu casaco roubado, perde-se de si mesmo. Dilui-se ao leu. Enlouquece e morre, retornando como uma sobra na noite fria a atormentar todos aqueles que usam capotes.
Essa releitura casual da narrativa de Gógol acaba me fazendo lembrar de certa turma da esquerda. Eles e suas causas muitas vezes absurdas, grudadas na pele como o capote de Akaki Akakiévich; eles às vezes tão viscerais em suas superficialidades, em seus dramas morais e em suas defesas retóricas que sequer conseguem enxergar os abismos que cavam para cair mais adiante. Que sequer sentem o destroçar das fantasias e quando se dão conta, se pulverizam ao leu como Akaki Akakiévich sem o seu capote. Há braços!
3 comentários:
Sou um leitor, se é que assim posso dizer, tárdio, por isso ainda estou na primeira infância da leitrua. O primeiro russo que li, e estou relendo,foi Dostoievsky. Crime e castigo, encantou-me a sua narrativa paradoxal. Ainda bem que temos este espaço para ouvir falar de coisas boas.
começou bem bal... leia "o idiota ", "o homem do subterrâneo" e os "irmãos karamazov" não vai se arrepender... Garanto!
Vou seguir as sugestões, vaelu!
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