19 julho 2010

CAPOTE E A ESQUERDA

Outro dia reli “O Capote”, de Nikolai Gógol.  De vez em quando é bom fazer um reencontro com a visceralidade da Literatura Russa.  O Capote é uma dessas novelinhas simples que se não fosse pelo fato de um casaco ser personagem mais do que o próprio personagem  Akaki Akakiévich, que se não fosse pelo fato de ser  criação de um dos grandes russos, passaria em branco.
Ali vê-se a que ponto um homem  transforma um objeto em obsessão, a que ponto um objeto, dentro de uma degradação neurótica,  transforma um homem em coisa.  Como o desespero desfigura a vida e a realidade; como o apego cego ao capote faz com que o homem se pulverize ao perdê-lo. Akaki, depois de ter seu casaco roubado, perde-se  de si mesmo.  Dilui-se ao leu. Enlouquece e morre, retornando como uma sobra na noite fria a atormentar todos aqueles que usam capotes.
Essa  releitura casual da narrativa de Gógol  acaba me fazendo lembrar de certa turma da esquerda.  Eles  e suas causas muitas vezes absurdas, grudadas na pele como o capote de Akaki  Akakiévich; eles  às vezes tão viscerais em suas superficialidades, em seus dramas morais e em suas defesas retóricas que sequer conseguem enxergar os abismos  que cavam  para cair mais adiante. Que sequer sentem o destroçar das fantasias e quando se dão conta, se pulverizam ao leu como Akaki Akakiévich sem o seu capote. Há braços!

3 comentários:

Unknown disse...

Sou um leitor, se é que assim posso dizer, tárdio, por isso ainda estou na primeira infância da leitrua. O primeiro russo que li, e estou relendo,foi Dostoievsky. Crime e castigo, encantou-me a sua narrativa paradoxal. Ainda bem que temos este espaço para ouvir falar de coisas boas.

Alan Oliveira Machado disse...

começou bem bal... leia "o idiota ", "o homem do subterrâneo" e os "irmãos karamazov" não vai se arrepender... Garanto!

Unknown disse...

Vou seguir as sugestões, vaelu!