08 outubro 2010

QUEM QUER COMER GRAMA E LER O GRANMA?

A imprensa dos sonhos do petismo é aquela que existe na Cuba da ditadura castrista. Lá grande parte da população lê o Granma (quando lê) enquanto come grama. O jornal do governo cubano é o único com circulação permitida, ele e seus braços em forma de pequenos panfletos diários que só noticiam o que o governo quer. Qualquer transtorno ou descontentamento registrado no meio social cubano, que está jogado às traças em nome da ideologia autoritária de um grupo lotado no poder há mais de 50 anos, é abafado ou distorcido. Os responsáveis são perseguidos, fichados e têm uma biografia falsa, pontilhada de crimes, divulgada no Granma e em suas extensões como forma de liquidar os descontentes e intimidar a massa revoltada. 
Essa é a "imprensa" ideal de Lulla. Não foi ele quem disse outro dia que a "midia" como gostam de falar, deveria  publicar só coisas boas e corretas, sendo que bom e correto é apenas o que o petismo decide que é bom e correto? Pois então é isso: a imprensa boa é a que em vez de divulgar fatos, denunciar práticas ilegais e imorais passa a ser propagandista do poder. A turma de Lulla gosta de rebanho e para manter o rebanho dentro das cercas do petismo, a imprensa tem que fazer o papel de propagadora da horizontalidade ideológica do petismo, do contrário torna-se intolerável. Aliás, tudo que foge aos arreios dessa gente da parte deles merece abominação. Esse é o lado autoritário, desprezível de uma ideologia que não aceita a pluralidade, a diferença,  a opinião contrária. Para eles, estaria de bom tamanho o povo ler algo como o Granma enquanto pasta como um rebanho dócil. 
O que busca esse tipo de ideologia é uma espécie de monocultura do poder que, ao obter êxito, se desdobra automaticamente em monocultura do saber e outras monoculturas. Tempos atrás estive em um debate em Salvador e presenciei com estupefação um professor da Uesf defender com ojeriza o banimento de revistas e livros desagradáveis à mentalidade de esquerda de dentro das salas de aula. Segundo ele, tais instrumentos contribuíam para deseducar os jovens. Fiquei horrorizado com a posição enfática do professor e tratei de passar-lhe um vexame público.  Defendi que  a sala de aula, além de ser espaço do cultivo e aprimoramento do saber formal, é espaço de questionamento, de convivência com a diversidade, de debate de ideias, de reflexão sobre diferenças, conflitos sociais e subjetivos os mais variados, sendo isso o motor do processo educativo que propicia o crescimento da consciência e naturalmente o fortalecimento do senso crítico e da cidadania. Não seria adequado a esse tipo de espaço reproduzir o monólogo político de uma ideologia.
 Como espaço de educação, a sala de aula deve se manter aberta para a pluralidade dos discursos que vicejam na sociedade, pois não existe processo educativo em espaços ideologicamente fechados, existe sim domesticação, bitolação, embrutecimento mental. Nisso acabei sendo desagradável com parte dos que estavam no debate, mas  o que fiz apenas foi criticar a prática ideológica que alimenta uma certa pedagogia do rebanho que impera no meio educacional. Na verdade, o petismo critica tanto a imprensa porque ela ainda não está totalmente amordaçada como a educação. Há braços!

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