
Minha teoria faz sentido uma vez que naqueles antigos livros que me obrigavam a estudar, havia uma linha imprescindível para caracterizar uma sociedade socialista: que os meios de produção estivessem nas mãos dos trabalhadores. Entretanto ao meu redor o que vejo é um Estado proprietário total, dono das máquinas, das indústrias, da infraestrutura de uma nação e de todas as decisões que se tomam sobre ela. Um patrão que paga salários baixíssimos e ainda exige de seus empregados o aplauso e a subserviência ideológica.
Esse dono avarento adverte agora que não pode continuar dando trabalho a mais de um milhão de pessoas nos setores públicos e empresariais. “Para avançar o desenvolvimento e a atualização do modelo econômico”, nos diz que devem reduzir-se drasticamente o quadro de ocupação do Estado, enquanto abre apenas pequenos espaços para as atividades autônomas. Até a Central de Trabalhadores de Cuba, único sindicato permitido no país, informa que as demissões são irreversíveis e que devemos aceitá-las com disciplina. Triste papel para quem deveria representar e defender os direitos de seus filiados diante do poder e não o contrário.
O que fará o atrasado patrão que possui esta Ilha há cinco décadas quando seus desempregados de hoje se transformarem nos inconformados de amanhã? Como reagira quando a independência de trabalho e econômica dos que ocuparam os pequenos espaços de produção autônoma se converter em autonomia ideológica? Daqui a pouco o veremos maldizer e estigmatizar os que enriquecerem, porque a mais valia, como a cadeira presidencial, só pode ser sua.
(*Yoani Sánches é filóloga cubana, vive em Havana, e escreve direto de Cuba para o Boca do Inferno. Tradução: Alan Oliveira Machado)
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