23 dezembro 2010

BAJULAR É UMA ARTE QUE EXIGE TREINO

O mundo está repleto de bajuladores, dos mais fuleiros aos mais aristocráticos. A bajulação é a arte de paparicar os poderosos (ou quem se imagine que é) com a finalidade de obter benesses, vantagens ou, a depender do perfil de caráter do bajulador, pelo menos aceitação. O jogo do poder é um jogo de trocas. Como o bajulador não tem nada a oferecer para participar da trama do poder ele oferece o elogio, a babação, a exaltação de miudezas como se fossem grandes feitos. Ele se põe a criar uma super imagem do bajulado, a enaltecer seus gestos a plantar grandiosidades onde há apenas mesquinharia e mediocridade. Isso funciona? Quase sempre quando o bajulador é treinado e competente. 
Mas há os bajuladores pé rapado. Aqueles que fazem encenação grosseira e espalhafatosa. Aqueles que plantam listinhas dos melhores do ano. Dos feitos mais incríveis da década etc dando visibilidade exatamente aos tipos  que agradarão aos poderosos de sua imaginação. Nesse caso a história vira o terreiro do bajulado e tudo que ocorreu fora do terreiro é apagado com uma desonestidade gritante. O castigo desse tipo de bajulador é que a História passa, a curtíssimo prazo, como um trator por cima de sua encenação expondo-lhe como a figura patética que realmente é. Nesse caso, não se sabe o que é mais ridículo, se o desfile de nomes que compõem a tela de bajulação ou se o pintor desajeitado que lambrecou a tela compondo a cena. Sendo assim, não será de todo necessário denunciar esse tipo de bufão. Há bajuladores mais perigosos e esses o pensador Plutarco descreveu muito bem no seu ensaio Como distinguir o amigo do bajulador . A certa altura diz o pensador grego: De qual bajulador é preciso se proteger? Daquele que não aparenta sê-lo, que nunca surpreendemos rodeando as cozinhas ou calculando no relógio a hora do jantar, e que nunca se permite à mesa nenhum excesso, mas que é sóbrio e moderado, curioso para ver tudo e tudo ouvir, procura antes envolver-se nos nossos negócios, penetrar em nossos segredos mais íntimos; enfim, aquele que, longe de interpretar seu personagem bufão ou comediante, conserva na conduta ou caráter sério e honesto.  HÁ BRAÇOS!

OBRA CITADA:
Plutarco. Como distinguir o amigo do bajulador Tradução de Célia Gambini. São Paulo, Scrinium, 1997 

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