25 maio 2010

"A CARGA ÓSSEA AINDA DESPERTA"

A sombra trágica da existência arrastou no último fim de semana, para o precipício, o cantor e compositor Carlinhos Gomes. Camarada simpático, cheio de energia, Carlinhos era amado e solicitado em meio a parentaia da Canabrava, de Canoão, de Ibititá e por todos que com ele partilharam momentos da vida. Foi um dos entusiastas da fundação da Casa dos Estudantes de Uibaí em Brasilia. Participou do grupo Candieiro formado na Ceubras e esteve sempre presente em eventos da entidade dando a sua contribuição como músico e contagiando os presentes com sua alegria.Muito tocou, cantou e emocionou os amigos. 
As circunstâncias da morte do nosso conterrâneo deixaram todos os amigos, parentes e admiradores perplexos. Em que medida a vida pesa tanto aos ombros humanos a ponto de torná-lo incapaz de senti-la? E no desespero de não senti-la partir cegamente em sua busca? Só é possível dar cabo à própria vida  quando ela já não existe, pois o que vale sempre mais é a vida. Querendo-a a qualquer custo, o homem, ávido de existência,  parte a procurá-la em outras searas, com ações às vezes irreversíveis.
 Em um de seus poemas, publicado no livro Canabrava do Gonçalo, Carlinhos diz: O galo canta/Marca a hora certa/ A carga óssea/ Ainda desperta. Qual peso suportava a carga óssea desse nosso querido conterrâneo? É o que todos se perguntam agora, tomados de tristeza. O que fazer quando os ombros já não suportam o mundo? Ao homem, de posse do seu livre arbítrio, há várias saídas! Poderia-se, por exemplo, numa atitude de rebeldia simplesmente negar o destino de Atlas que a vida nos legou. Não carregar carga além dos limites da nossa compleição, saltar para a margem e seguir assoviando e pleiteando desafios mais leves. Carlinhos, como um guerreiro do exército da vida, ao percebê-la escapando de suas mãos saltou em sua direção. E amante da boa música brasileira desenhou com seu gesto o trágico da bela canção Construção de Chico Buarque. Ele talvez tenha feito paradoxalmente a escolha por viver. E nós seus amigos, seus conterrâneos, ficamos atônitos, parados com nossas cargas nas costas sentindo o impacto, para nós incompreensível, do seu gesto e o vácuo inaceitável da sua ausência. Há braços!

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