01 março 2010

O PIOR DESSA ESQUERDA É O QUE ELA REALMENTE É

Tem gente perguntando por aí onde o boca do inferno quer chegar com a discussão que vem imprimindo quase que diariamente nas suas páginas. Nós queremos apenas abrir um flanco para a reflexão. Ocorre que temos um problema: a nossa origem de esquerda. Por que isso é um problema? Por duas razões básicas: primeiro porque a domesticação mental, a lavagem cerebral que o pessoal de esquerda sofre por meio dos aparelhos infiltrados nas escolas, universidades, sindicatos, imprensa, instituições públicas variadas o faz agir mecanicamente por meio de uma operação mental primária de categorização e exclusão. 
Pelos sinais ou comandos inculcados automaticamente, o sujeito produzido genericamente pela esquerda seleciona o que é esquerda e protege, e vangloria e exalta irrefletidamente (não se importando com brutais contradições) ao mesmo tempo em que exclui e nomeia como direita o que não pode ser identificado como esquerda, na mesma operação mental. Pensar a realidade se torna impossível. A medida que reduz a realidade à ínfima parcela de referências e experiências que constitui o processo de identificação do seu próprio território, essa turma  exclui a possibilidade de enxergar a enorme extensão da realidade, a  multiplicidade e imprevisibilidade que a compõe e a circunda. 
A segmentação do  mundo em esquerda e direita produz uma cegueira que estreita e empobrece a relação com a realidade e com a matéria humana. Além dessa obtusa domesticação mental, a qual o boca do inferno não se submete, que nosso caderno combate cotidianamente, há outra razão mais pungente: os objetivos dos segmentos de esquerda são falidos; historicamente só produziram pobreza, violência e autoritarismo. As únicas coisas que funcionaram nas experiências socialistas são negativas: a formação de uma elite cheia de privilégios, centralizada em um partido, e o estado autoritário, repressor, que coibi a liberdade de expressão, de credo e limita o desejo e a criatividade individual. Depois que a poeira da utopia baixa o que aparece no horizonte é o estado totalitário, que socializa a miséria em todos os sentidos. 
As economias ditas socialistas foram um fracasso total. Toda vez que um país hegemoniza as práticas econômicas do socialismo à moda tradicional acaba jogando o Estado na falência e espalhando ainda mais pobreza e violência, vejam o exemplo da Venezuela, da Coréia do Norte e de Cuba. Os países que avançaram economicamente empunhando essas bandeiras retrógradas mantiveram a economia no jogo da ordem capitalista mundial, a exemplo da China. O que é a China senão uma economia capitalista agressiva, gerida pela ditadura totalitária do partido comunista? 
O que aconteceu então com o boca do inferno? Deixamos de ser de esquerda? É o que dizem os míopes do alto de sua bitolação mental. E se levarmos em conta a precariedade de sua visão, os limites de seu discernimento não podemos deixar de dar certa razão a eles.  Nada melhor do que retomar aquela velha metáfora da pesca: jogar uma rede de buracos grandes no oceano dá a esse pessoal primário o direito de achar que o oceano é povoado apenas pelos peixes grandes que ficam presos em suas redes. Mas o oceano é o mundo e o mundo é bem mais múltiplo e complexo do que o kit de pensamento para a massa oferecido pela turma tradicional da esquerda. O que queremos é implodir essa rede redutora. 
A esquerda precisa ser repensada e para repensá-la é necessário abandonar  o próprio nome "esquerda" que aciona os mecanismos de redução da capacidade de discernimento da realidade. É preciso associar o nome "esquerda" exatamente ao que ela é e faz no dia a dia, para se produzir um colapso mental com resultados pedagógicos, uma perturbação com efeitos educativos em seus soldadinhos. O ideal é botar a mão na realidade e sentir sua textura, sua temperatura, seus acidentes, suas faltas para fortalecer livremente ideias e ações que realmente tornem o mundo melhor. Acreditamos que o mundo pode ser mais igual, mais justo, mais democrático, mais honesto e lutamos por isso e defendemos isso. A esquerda que está aí é incompatível com nossas crenças. Chamem-nos do que quiserem, mas reflitam. Tentem fugir das teias mentais a que estão condenados. Há braços!

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