07 março 2010

DO PAÍS DAS MARAVILHAS AO DAS MARAVALHAS

O fato primo mobilis que desencadeia toda a ação na história de Alice no País das Maravilhas acontece quando um coelho branco passa correndo  pela menina Alice e falando que está atrasado, de olho em um relógio que retirou do bolso do colete. Eis aí a grande invenção, o pai de todas outras ilusões humanas: o Tempo! O relógio estabelece o Tempo como uma realidade, mesmo não existindo Tempo, mesmo o Tempo sendo a maior de todas as invenções, o maior de todos os contratos humanos. A crença na existência do tempo encobre a desordem, o caos  e propicia a pavimentação de um caminho linear para a existência. O tempo foi instituído como um alicerce sobre o qual edificamos o nosso mundo de ordem. O coelho de Lewis Carroll está atrasado, está fora do tempo, fora da ordem e será ele quem conduzirá Alice para o mundo sem Tempo do País das Maravilhas. Não tendo o Tempo como suporte, necessariamente a realidade desse mundo subterrâneo não será compatível com a nossa. 
A gente sabe que o País das Maravilhas não representa a realidade fora da ordem da linguagem, representa a linguagem fora ordem da representação estabelecida. É a violação da base de sentido dos significantes que torna estranho o mundo no qual Alice se enfiou. É a linguagem que é questionada  e como somos seres visceralmente de linguagem, ficamos encabulados com o Chapeleiro Maluco, aquele que diz: ver o que se come não é o mesmo que comer o que se vê ; com Humpt Dumpt, com a Rainha de Copas e tudo mais que corroi o cimento que solda os sentidos nas palavras de tal forma que esquecemos ser tudo uma mera invenção, uma maravilhosa farsa.
Mas onde entra o País das Maravalhas nessa conversa? Aguardem!  Há braços!

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