18 fevereiro 2010

BOCA DO INFERNO -50: O MITO DE SÍSIFO

Diz o filósofo Albert Camus que o trabalho de Sísifo é inútil e desesperançoso. Nesse ponto discordamos do autor de "O estrangeiro". Ser não é desesperançoso, nem inútil. Ser apenas é! O trabalho de Sísifo é o trabalho de Sísifo porque Sísifo é Sísifo e pronto! Sísifo é um mito grego. Refere-se ao rei da Tessália que desrespeitou Zeus  com a  finalidade de conseguir uma fonte de água para seu povo, e conseguiu.  Como se vê, a despeito da política de hoje, Sísifo era um bom líder... Um verdadeiro político. Por ter desrespeitado o deus maior, buscando beneficiar sua comunidade, Sísifo foi condenado a um castigo eterno. Lançado ao Hades, uma espécie de reino dos mortos grego, ele se viu obrigado a conduzir uma imensa rocha ao topo de uma inclinada montanha e sempre que chegava ao cume a rocha rolava para o sopé novamente, obrigando o heroi mítico a recomeçar o duro trabalho por toda a eternidade.
Nosso esforço aqui no Boca do Inferno, tem algo do Mito de Sísifo. Não é inútil, nem sem esperança. É o que é! Não nos torna melhores ou piores do que os outros, mas nos faz ser o que somos: o Boca do Inferno. Galgamos a encosta íngreme da nossa montanha, rolando a nossa imensa rocha, arrastando com o esforço ervas daninhas e venenosas. E não só enquanto subimos ao cume, mas também quando descambamos de lá, deixamos ao longo da encosta o rastro descampado onde se pode ver a realidade nua e crua, livre do batume da hipocrisia, da mentirada política ou de algo  que o valham. Como diz Camus, há momentos em que mirando o rosto extenuado pelo esforço é possível perceber que Sísifo e sua pedra colossal se fundem como uma coisa só. Seria diferente com o Boca do Inferno? Há braços!

4 comentários:

Unknown disse...

"No plano da inteligência, posso, pois afirmar que o absurdo não está no homem (se semelhante metáfora pudesse ter um sentido), nem no mundo, mas em sua presença comum. É, nesse instante, o único laço que os une. Se pretender me limitar às evidências disso, sei o que o homem quer, sei o que o mundo lhe oferece e agora posso dizer que sei ainda o que os une. Não tenho necessidade de cavar mais adiante. Uma única certeza é suficiente àquele que procura. Trata-se apenas de lhe extrair as conseqüências todas."
Parabéns ao Boca do Inferno pelo texto!

GTV BOCA DO INFERNO disse...

Olá, Lucas, dá pra perceber que você já leu Camus. O Mito de Sísifo principalmente. Mas para não sermos injustos com Camus citemos uma passagem de "O mito de Sísifo" para atenuar a nossa ênfase: "Sísifo ensina a fidelidade superior que nega os deuses e levanta os rochedos"

Jr. disse...

Não acho que vocês discordem do autor de "O Home Revoltado". Antes observam de uma perspectiva diferente a "natureza" do trabalho. Camus sabe que antes da idéia natureza e de "fins" para o esforço de Sísifo, há o absurdo. Se como ele afirma que no "estado absurdo" o homem expulsa do mundo o deus que antes habitava com a "insatisfação e o gosto pelas dores inúteis" então no seu próprio trabalho Sísifo encontra a felicidade da descoberta. Não é um sentido para o trabalho, mas é o momento em que ele percebe que "a rocha é sua casa". Como Sísifo sempre teve um desprezo pelos deuses há de se entender que ao descobrir no seu esforço incessante não há um destino superior, ele se sinta feliz por ser "dono dos seus dias". Camus não encontra uma finalidade para explicar a natureza do trabalho, ele nos mostra que isso é irrelevante perante o absurdo.

Anônimo disse...

Não apenas o texto que provocou os comentários como os mesmos são instigantes. Quis ter Camus à mão...(mas não o tenho..). Alan, o Lucas e o Jr.parecem bons visitantes do B. Tártaro!

Abraço.
Oz.