21 dezembro 2009

DIAS EM OLIVENÇA

O mar azul de Olivença visto da varanda, numa foto de Líris .
Esta é uma tarde tranquila aqui em Olivença, aliás, como qualquer tarde dos dias que me acolhem nesta beira de praia do sul da Bahia. Ontem mesmo acho que começou a temporada de verão por aqui. Por essas bandas tudo vai mais ou menos devagar, como naquele poeminha do Drummond. As casas vão-se colorindo aos poucos para receber os turistas, um homem escala a prestações um coqueiro que pende para a lambida das ondas... O mar é azul como nunca, como jamais. É o que constato ao levantar por alguns segundos as vistas, ocasião em que o horizonte me inunda com água trepidando entre coqueiros e cabanas rústicas.
Tenho ótimas companhias... Minha esposa Anairam e nossas duas filhas, Líris e Sofia, partilham estes dias... Estou em família. Com sua claridade natural, Anairam se esgueira do brilho da manhã sob uma cabana plantada na areia. Anairam é bonita como é, não precisa de sol. Líris avança, destemida, rumo às ondas que se quebram na areia branca, a pele já dourada como a do caboclo que desce da barcaça ao lado com uma vara de pesca e um gancho ornado de pequenos peixes na mão. Mas alguém observa mais atentamente tudo, é Sofia. Ela arregala os olhos para o tempo e engole tudo. A menininha no carrinho azul balança um bonequinho de borracha enquanto traduz o mundo dos adultos e a natureza ao redor em sorrisos, balbucios e agitação. Sofia já sabe um bocado do nosso mundo. Olha para o mar, olha para a mãe, olha para esse escriba meio encoberto pelo computador, dá um sorriso e despreza os detalhes.
A tarde segue a conta gotas. De volta para casa, nos retemos cá no Bar e Restaurante Esperança. Minha amiga Gilda vem tagarelando lá de dentro com o periquito Juca no ombro. A cerveja gelada e a mandioquinha crocante ajudam a puxar o fim da tarde. Dizem que aqui é terra de Tupinambá... Minha mãe dizia que a bisavó dela, Maria Júlia, foi pega a dente de cachorro, uma referência direta à “delicadeza” com a qual os colonizadores do sertão baiano submetiam os índios. Minha mãe falava isso com certo orgulho, como se fosse alguém que descendia de uma estirpe que não caiu na conversa fiada dos invasores, que não trocou a alma por espelhinhos ou qualquer forma maquiavélica de sedução. A declaração de minha mãe me diz muito. Diz inclusive que sou tataraneto de índios. Isso é bom...
 Ainda não estabeleci contato com os tupinambás, mas daqui da varanda do Esperança, com a brisa do mar acariciando o rosto, ouço diariamente o zoar das toyotas da Funai, num sobe e desce danado, indo e voltando das reservas. Assim, vou tecendo os fios desses dias baianos, tropicais, litorâneos. E enquanto contemplo minha amiga Gilda se distraindo com o periquito no balcão do Bar Esperança, me agrada pensar, cheio de esperança, que estou em casa. Há braços!
alan oliveira machado, Olivença, 19 de dezembro de 2009.

Um comentário:

Ilckmans Bergman Mugarte disse...

Que lindo!!!
Nada melhor do que um Marido poeta!! Minha amiga tem sorte!!!
Vc é ótimo...num simples olhar, eis que surge um conto, uma estória!!! saudações, além das VASCAÍNAS , as indíngenas!!! KKKK
Somos descendentes...O meu alemão com índio: DEU NISSO!!! KKKKKKK
"Um índio descerá de uma estrela colorida e brilhante" (Caetano)
Parabéns! Adoro qdo fala em TOM POÉTICO!!!!
Beijos!! Parabéns pela house yellow!!