16 dezembro 2009

CHOCANDO OVO DE SERPENTE



Não precisa ler “Arte da Guerra”, “O Príncipe” ou algo que o valha para saber que, em princípio, em política não se elege contendor. Quando coisa parecida acontece não é impossível imaginar com certa convicção o que o povão, já calejado pelas manobras da política, costuma bradar a ceu aberto: “não existe almoço grátis”! Traduzindo, se existe apoio do mais adverso segmento ou ao mais distinto adversário esse apoio certamente se converterá em algum lucro, seja monetário ou propriamente político. Melhor dizendo, ganham-se alguns cargos, alguns espaços para negociar ou mesmo um troco. Essa face da política dificilmente aparece no palco (ou dificilmente é admitida em público), ela é algo estritamente do bastidor e se mostra no que o filósofo José Gianotti chamou de “zona cinzenta da política”. Nesse território, como já dissemos por aqui em outro texto, ideologia, ética e moral perdem a solidez e ganham uma maleabilidade desfigurante.
Pessoas com rigidez ética, moral ou ideológica jamais recebem passaporte para a zona cinzenta, quando conseguem atravessar o seu véu não sobrevivem lá por muito tempo. O que predomina na zona cinzenta é o poder cru e nu. É o jogo que determina o exercício do poder. A hegemonia no poder depende da movimentação na zona cinzenta e esta é instável, se constitui muitas vezes de negociatas truculentas e exigências espúreas. Por isso, ninguém se segura por muito tempo no centro das decisões na zona cinzenta. Há certa sobrecarga de interesses subjetivos e particulares, contraditórios e até mesmo irracionais em intensa circulação na zona cinzenta, o controle desses interesses garante a aparente estabilidade do grupo que atua hegemonicamente no palco da política.
Nessa perspectiva, como qualificar os apoiadores desencantados ou não do grupo que está no poder na Canabrava? Se formos acreditar na ingenuidade deles, vamos ter de concordar que eles são imbecis e fizerem papel de idiotas, uma vez que se prestaram a chocar ovos de serpente para agora terem que se esquivar da peçonha dos rebentos. Poderíamos imaginar coisa mais vergonhosa ainda: que esses apoiadores entraram na zona cinzenta e saíram de mãos abanando, não restando alternativa a não ser choramingar, espernear e se autodenominar nova oposição. Aliás, uma “nova oposição” que não faz oposição, que não critica, que não mostra porque passou a ser “oposição” e a que se opõe exatamente. Uma “oposição” que mete o porrete em quem joga pedra no ninho de serpentes e trata os gestos mais pilantras, a bandidagem que reina no ninho do poder com tantos eufemismos e elipses que até parece aquelas mães desesperadas tentando ver o lado bom do filho meliante. Deve ser isto: chocar ovos de serpente desperta o instinto maternal. Há braços!



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