21 maio 2009

AVANÇO E RETROCESSO

Devo muito às casas de estudantes. Os obstáculos que venci para alcançar títulos acadêmicos e posições de prestígio na minha área de formação seriam bem mais duros caso não tivesse contado com o apoio dessas moradias, em momentos fundamentais da minha formação. Vivi na Ceubras (DF), onde fui presidente e diretor de cultura, na CEU-I (GO), e na CEU-III(GO), esta última tive a honra de ajudar a construir em Goiânia. Se devo muito às moradias estudantis, o movimento de moradia nacional também me deve alguma coisa, pois fui um morador de casa atuante e meu trabalho se concentrou sobretudo na luta pela autonomia dessas entidades estudantis Brasil afora e por assistência governamental, sem prejuizos à independência das casas.
Recentemente, este caderno publicou o que seria um projeto de assistência estudantil encomendado pelo prefeito de Uibaí. O Boca do Inferno classificou o projeto como algo que poria o prefeito na história, pela abrangência assistencial e pela compreensão de que a educação é o mais valioso patrimônio da Canabrava. Li atentamente a peça e não tive dúvidas de que se tratava de algo realmente importante. A iniciativa do prefeito, se aprovada pelo legislativo só trará benefícios para o Pé da Serra.
Pois bem, agora recebemos aqui as informações de que está marcado para dia 24 de maio um encontro estudantil em Salvador, onde se reunirão representantes das casas de estudantes uibaienses para discutir a assistência estudantil municipal e, segundo alguns, a "nacionalização da aeusu" (aberração jurídica de uma inconstitucionalidade amadora). A se levar em conta os comentários de alguns dos interessados, a principal estratégia é formalizar, via aeusu, um modo de sujeitar as moradias estudantis. A quem interessa a sujeição das casas? Estariam buscando a centralização das casas com que interesse? Seriam os mesmos interesses que moveram as investidas de Hamilton e Renato nos anos de 1980 e 1990?
Há alguns anos( fevereiro de 2006), defendi em texto que "casa de estudantes é espaço de diversidade, de debate de ideias, de convivência com diferenças, conflitos sociais e subjetivos os mais variados, sendo isso o motor do processo educativo que propicia o crescimento da consciência e naturalmente o fortalecimento da cidadania. Não convém a esse tipo de moradia assumir partido algum. Como espaços educativos, as Ceus devem se manter abertas, pois não existe processo educativo em espaços ideologicamente fechados, existe sim domesticação, bitolação, embrutecimento mental".
Quando escrevi o conteúdo acima, em destaque, percebia uma espécie de aparelhamento partidário dentro das casas e presumia o quanto seria nocivo ao crescimento do real senso crítico. A centralização ou, como estão dizendo muitos dos interessados, "a sujeição" das casas à aeusu pode se constituir num mecanismo de controle político das moradias, pode encaminhá-las para a lógica do alojamento estudantil, como descrevi há bastante tempo em outro texto (Moradia Estudantil, 2002) ou para a destruição da identidade de cada casa. Se o aparelhamento e controle das casas for o real interesse dessa mobilização pró "nacionalização da aeusu", o projeto de Assistência Estudantil, que inquestionavelmente representa um avanço enorme, sofrerá um golpe de retrocesso violento mesmo antes de sair do papel.
A lógica primária que estaria por trás do entendimento de alguns puxadores desse movimento seria a seguinte: se a aeusu é uma associação externa ao ambiente de moradia, poder-se-a, criando-se seccionais dirigidas por pessoas ligadas ao poder municipal, controlar ou decidir o que os moradores e a casa devem fazer, principalmente em termos de política. Sinceramente, não estariam os nacionalizadores da aeusu superestimando as casas de Uibaí? Se assim o estão fazendo, não as estariam destruindo como espaços educativos? Convenhamos, se assim for, isso é realmente bem primário! HÁ BRAÇOS! alan

2 comentários:

Anônimo disse...

É realmente algo que disperta suspeita. Esse pessoal prega a democracia, mas na prática sempre caminha para o autoritarismo. Sergio

Anônimo disse...

Como diz minha avó, de boas intenções o inferno tá cheio! O sistema é bruto, companheiro! Diu