Banheirão em 1989, depois de ser desentupido.
Durante muito tempo, Uibaí foi, para a região de Irecê, o oasis das águas frescas e saudáveis. O lugar aonde as pessoas vinham buscar água cristalina ou desfrutar do lazer que os riachos e nascentes da serra ofereciam durante o ano inteiro.
Durante muito tempo, Uibaí foi, para a região de Irecê, o oasis das águas frescas e saudáveis. O lugar aonde as pessoas vinham buscar água cristalina ou desfrutar do lazer que os riachos e nascentes da serra ofereciam durante o ano inteiro.
Até meados dos anos de 1980, o Banheirão, por exemplo, recebia um fluxo significativo de pessoas de muitos municípios da região. Ocorre que paralelo a esse desfrute turístico e utilitário dos recursos hídricos de nossa serra também prosperava (e ainda prospera) uma irracional prática predatória do meio ambiente.
Entendam como predação ambiental a implantação descontrolada de roças ao longo da serra bem como a proliferação criminosa de queimadas, do comércio de postes, pedras e da fauna silvestre. Tudo isso somado gerou uma violenta degradação ambiental que teve como resultado o definhamento das nascentes e a escassez do nosso mais apreciado recurso. Não dá para esquecer os entupimentos da barragem no final da década de 1980. A cada estação de chuva, a cavidade da barragem ficava completamente preenchida de areia, resultado do assoreamento gerado pelo desmatamento produzido serra acima.
A Canabrava entrou a década de noventa com uma crise profunda de abastecimento de água e com as nascentes e riachos quase extintos. Durante esse período, nada, praticamente nada foi feito para salvar a serra. Quanto à escassez de água, o município foi salvo pela chegada da água proveniente do açude de Mirorós. Uma água, embora potável, com uma qualidade muito inferior ao produto outrora abundante nas grotas da Serra Azul. O povo sofreu para se adaptar ao caldo grosso e meio salobro que passou a jorrar das torneiras vigiadas pelos registros da Embasa.
O período de otimismo que se instaurou com a chegada da água de Mirorós tem dois lados. Por um lado, deu descanso para as nascentes que deixaram de ser sugadas com o fim de alimentar as residências uibaienses e de demais municípios e também estimulou a expansão urbana, mas, por outro, deu a entender que não precisávamos mais dos recursos da serra, podendo-se, portanto, continuar a destruí-la à vontade e de forma voraz... Infelizmente foi o que aconteceu.
A falta de consciência e a desinteligência nossa, não nos permitiram perceber que aquela ocasião seria o momento exato para cuidar da serra, para proteger nossas águas e transformá-las em fonte turística de divisas e de qualidade de vida para Uibaí. Preferimos ignorar tudo isso e destruir cada vez mais nossos recursos naturais, já que o problema hídrico estava resolvido. Santa burrice!
Faltou-nos visão a médio e longo prazo. Infelizmente, não levamos em conta que a barragem de Mirorós também poderia entrar em colapso. E é exatamente isso que estamos presenciando agora. Novamente, o fantasma do desabastecimento ronda a região de Irecê. O baixo nível da água no açude de Mirorós, que abastece 486 mil pessoas em 14 municípios da nossa região, começa a preocupar as autoridades e a virar tema de discussão. O problema é este: as autoridades só se preocupam quando o estrago já está feito. Dados do Ibama e da Embasa apontam entre as causas da diminuição brusca do volume das águas, a degradação das nascentes e das matas ciliares dos rios que alimentam a barragem e o uso abusivo e descontrolado do referido produto.
Em Uibaí, a Codevasf, já ciente da crise de água por que a região começa a passar, resolveu investir na recuperação ambiental da serra, por saber do potencial hídrico que está sendo desprezado ali. E a prefeitura, e as entidades organizadas do município, como vão entrar nessa história? O que estão fazendo? Uibaí tem um produto precioso em seu território e ignora isso. Qual será o preço a pagar? HÁ BRAÇOS!
Alan Oliveira Machado
7 comentários:
Ótimo Alan! você cita q a codevasf, não por questões de consciênia, já começou a fazer sua parte, e questiona as entidades públicas que se eximiram de culpa e tb por não atuarem na recuperação da área! ótimo tb! mas e vc? o q vc tem feito além de escrever?
Caro anônimo, primeiro, não disse que as "entidades públicas" se eximiram de nada. Apenas perguntei qual o papel delas (agora) nessa história; como vão atuar, ou o que têm em mente. Como cidadão, é importante querer saber sobre essas coisas, não? Com respeito ao que eu tenho feito, te digo o seguinte: primeiro, sou educador, tenho um compromisso com o combate de valores negativos, danosos à sociedade. Escrever é uma forma de atuar... De educar, de formar opinião, de gerar debate e mudança. Acredito na democracia e não se faz democracia sem opinião, debate, questionamento, sem pluralidade de informação. Tenho feito muita coisa no meu dia a dia. Tenho um projeto de arte e reciclagem que atinge escolas... produzo projetos em parceria com ongs ambientalistas... Faço minha parte onde vivo e ainda contribuo como educador... Tiro sempre um tempo do meu trabalho para refletir sobre nosso pé de serra e levantar questões... Acho que faço mais do que muita gente por aí, não? Há braços!alan
Kkk, já percebi que vocês têm “problemas” com pessoas que não se identificam, não é?
O que me deixa intrigada é: - Que diferença faz saber o nome de alguém que pode ou não, ser de fato quem vos fala? Quanto aos projetos desenvolvidos por você, PARABÉNS se isso satisfaz sua condição humana! Quando perguntei o que fazia para mudar a situação, além de escrever, não foi em momento algum em TOM de desprezo ou para diminuir a sua ação denunciativa! Foi tão puramente curiosidade de saber quais projetos são desenvolvidos. E obviamente, como cidadão e educador deve-se praticar ações que questionem, indaguem, problematizem! Sim, é um direito seu cobrar principalmente do poder público um direcionamento para a preservação das áreas devastadas (e principalmente das que não foram ainda degradadas como uma forma de ser uma ação preventiva e não amenizadora, que é o que muitas pessoas ao trabalharem com essas questões sócio/ambientais fazem!) da sua cidade. E assim como você se sente no direito de indagar, EU que sou leitora do BLOG, e não residente do município logo, além do que vocês escrevem me encontro completamente por fora da situação da cidade, também tenho o direito de questionar o que é feito para mudar a realidade do lugar, não? Já que como você mesmo disse “Acredito na democracia e não se faz democracia sem opinião, debate, questionamento, sem pluralidade de informação.” (MACHADO, 2009)
:), "há braços".
Nosso objetivo não foi ofender,caro MACHADO, pelo contrário, a sua opinião é muito valiosa para nós, enriquece o nosso blog!
A gente costuma usar "caro anônimo" simplesmente quando não há alguém definido, seja por pseudônimo, sobrenome ou nome. È um modo de se dirigir ao interlocutor não identificado. Depois, não é verdade que a gente tem "problemas com quem não se identifica". Se tivéssemos não os publicaríamos. No seu primeiro comentário não há nada que nos leve a crer que você se identifica ou não se identifica conosco. Você fez perguntas e obteve respostas, correto? Só isso. Continue participando. Isso faz bem para a democracia.
Olá, caro anônimo... Um dos nossos moderadores cometeu uns enganos na interpretação do seu segundo comentário, mas o que ele disse a respeito do uso de "caro anônimo" é correto. Não temos nada contra o anonimato. Realmente, publicamos sempre os anônimos que nos chegam. Faz parte do jogo democrático. Você tem todo direito de dizer o que quiser. Se quiser escrever artigos pro blog, também pode. Este espaço é pra isso mesmo. Agradecemos a sua participação.
HÁ BRAÇOS! alan
Olá senhor moderador, como vai tudo bem? Só fazendo algumas correções, quando me referi a identificação foi apenas em relação ao indivíduo que vos fala e não ao laço que caracteriza afetividade, identidade pessoal, cultural ou algo do tipo. Outra observação a ser feita é a seguinte, quando se usa uma frase que já foi proferida por alguém é de bom tom se “aspear” a frase completa e ao final, ou início se preferir, expor o sobrenome da pessoa que primeiro a concretizou, ou polemizou, se for o caso. O Machado ao qual me refiro é o sobrenome de Alan pois, concluo a minha segunda colocação utilizando uma frase que ele escreveu no primeiro comentário! Fico lisonjeada com o convite p/ escrever artigos, assim que eu me dispuser de tempo enviarei com o maior prazer.
: ), Darcy* (*pseudônimo).
Cara Darcy, o professor Alan já havia alertado sobre os equívocos que este moderador cometeu. De qualquer forma agradecemos o esclarecimento. Dioniso
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